Um conjunto de contos inventivos
PublishNews, Redação, 06/11/2024
Em 'Os inúteis', da Nós, os personagens de João Guilhoto sonham, ou apenas existem, num sentido inverso ao do capitalismo de ação e de atenção 24 horas

Qual o desejo mais secreto, a decisão radical, que pessoa alguma jamais imaginaria, que você seria capaz de nutrir? No lugar de alguma aventura sexual ou de milhões gastos no efêmero de uma noite, os personagens do escritor português João Guilhoto sonham, ou apenas existem, num sentido inverso ao do capitalismo de ação e de atenção 24 horas. Uma jovem quer fazer apenas nada. Nem comer, nem beber, nem amar. Nada mesmo. Outro quer assumir a inutilidade, como alguém que toma para si o orgulho de tocar um instrumento musical. Há um outro que, desiludido pelos tempos de paz, prefere esperar pela chance de dançar sobre o horror de mais uma guerra infértil. Se na sua coleção de fragmentos O livro das aproximações, o autor olhava para mestres como Franz Kafka e Robert Walser, para assim entender o sofrimento humano, em Os inúteis (Nós, 80 pp, R$ 63) a sua aposta literária é ainda mais radical: ergueu um bestiário de seres que se orgulham da margem, que se nutrem da margem. É como se o escritor dissesse, como um mestre de cerimônia circense, que, enfim, temos esses homens e mulheres maravilhosos que escaparam da sociedade, que a enganaram.

Tags: Contos, Nós
[06/11/2024 07:00:00]