
Luiz Antonio Simas teve a tarefa de dar o tom da Flip 2024 na cerimônia de abertura da Festa na noite desta quarta-feira (9). Em sua aula sobre o homenageado da edição, João do Rio, o professor e autor argumentou como a obra do jornalista e cronista mostra a sofisticada cultura de rua do Rio de Janeiro, e como "de um lugar onde há violências, floresce a vida", como definiu durante seu monólogo no Auditório da Matriz. No início do evento, o diretor artístico da Flip, Mauro Munhoz, comemorou a aprovação de um plano plurianual da Flip no âmbito da Lei de Incentivo à Cultura, medida que traz maior seguridade para que o evento aconteça ano após ano.
Já na Casa PublishNews, cuja programação se iniciou às 15h de quarta (9), os bancos ficaram lotados em todas as mesas do dia – que discutiram assuntos relacionados a curadoria de eventos literários, audiolivros e metadados, além de um painel sobre assuntos gerais e urgentes do mercado do livro.

Intitulado "Reflexões e ações urgentes em prol do mercado do livro e do fomento à leitura no Brasil", o painel na verdade foi dividido em dois: um na quarta-feira (9) e outro na manhã desta quinta-feira (10). Hoje, o painel contou com a presença do Secretário de Formação, Livro e Leitura do Ministério da Cultura, Fabiano Piúba. Ele ressaltou a importância da união do setor do livro em torno das pautas mais urgentes – como a Lei Cortez – para mudanças efetivas na legislação, por exemplo.
Piúba também comentou a criação de um novo edital do PNLD Literário voltado para equidade. "Para pensar uma política para o nosso setor, é preciso pensar em todos os elos da cadeia. Os editais às vezes são dragões de duas cabeças, por um lado democratiza, e por outro concentra, porque há necessidades específicas que às vezes editoras pequenas não conseguem atender. Por isso estamos pensando num edital de equidade do PNLD Literário para dar ainda mais vazão à bibliodiversidade. Estamos trabalhando também com a possibilidade de criação de linhas de financiamento com bancos, como o BNDES já fez no passados. Estamos nessa lida", afirmou.
A Lei Cortez estava na pauta da Comissão de Educação do Senado na terça-feira (8), mas a votação foi adiada em uma semana por conta da movimentação na casa legislativa em relação às sabatinas do novo presidente do Banco Central. Segundo Piúba, há uma expectativa real de aprovação na próxima semana. Se aprovado, o projeto de Lei, apresentado no Senado em 2015, segue para a Câmara dos Deputados.
Na quarta-feira (9), o assunto também foi comentado por Luciano Monteiro (vice-presidente da CBL), Lizandra Magon (presidente da Libre), Cecília Arbolave (editora da Lote 42) e Ângelo Xavier (presidente da Abrelivros).
Simas e João do Rio
Voltando para a Praça da Matriz. Simas partiu de uma retomada da história do Rio de Janeiro do século XX e da política de embranquecimento empreendida no período da Primeira República. "A Lei da Vadiagem serviu para criminalizar as manifestações culturais não brancas no Rio", comenta.

Ele reforçou o cenário cultural da cidade marcado pelas diásporas e como tal contexto reverberou na obra de João do Rio."Toda diáspora é um empreendimento de morte, e que aniquila identidades". Além de se mostrar contrário à uma construção consensual de uma "cidade maravilhosa", o professor contesta o ideário europeu de um Rio de Janeiro cosmopolita: "A cidade que seria francesa, pulsa as vielas, que João do Rio retrata muito bem (...) tentou reconhecer aquelas pessoas (das ruas) como sujeitos de suas vidas", afirma.
Como um todo, a apresentação foi um apelo para a valorização da cultura de rua, convocando espectadores para "festejar e pensar as provocações de João do Rio em 2024" – uma obra que se mostra bastante atual por sua temática — ainda que venha de uma visão marcada pela época, claro.
João do Rio, proeminente personagem da vida intelectual no início do século XX, foi cronista prolífico, mas também autor de romances, ensaios, contos, peças de teatro, conferências sobre dança, moda, costumes e política. Como pioneiro da crônica moderna, mudou o modo de fazer jornalismo.
Entre as principais obras do autor estão A alma encantadora das ruas, Vida vertiginosa, Dentro da noite e As religiões no Rio. Sua obra se encontra atualmente em domínio público. Entre as editoras que editaram sua obra mais recentemente, estão a José Olympio, Companhia das Letras, Carambaia, Global, Nova Fronteira, Lazuli, e outras.

Simas terminou a apresentação contando uma parte da história de Cartola e sua conexão com a Mangueira. Após a apresentação, o grupo Samba da Bênção armou um show que dialogava diretamente com a tradição apresentada na cerimônia de abertura. Apesar das cadeiras dispostas no Auditório terem afastado um pouco o público do palco, o espaço da Praça atraiu centenas de pessoas até o fim da noite.