São títulos como Te vejo na final (Harlequin), de Ayslan Monteiro, lançado em fevereiro deste ano; Fence (Galera Record), uma graphic novel ambientada no universo da esgrima, de C. S. Pacat e Johanna the Mad; Operação paddock (Paralela), de Laura Athayde, com o tema da Fórmula 1; e a trilogia Tudo pelo jogo (Galera Record), de Nora Sakavic. Outro título é Axioma (Outro Planeta), de Cora Menestrelli, cujos personagens estão envolvidos no mundo da ginástica artística brasileira, lançado em 2023. A Intrínseca também publicou Táticas do amor, de Sarah Adams, em janeiro de 2023, e planeja um novo sport romance para setembro, Um amor sem freio, de Simone Soltani.
"A grande maioria são romances contemporâneos", explica a editora da Harlequin, Julia Barreto. "Com frequência, também aparece a trope de 'inimigos para amantes', quando rivais precisam interagir de alguma forma, mas não é regra. Há histórias em que um dos protagonistas não é atleta, ligado a este mundo de alguma outra forma (comissão técnica, equipe de relações públicas etc)".
Para ela, a recepção do subgênero no Brasil é boa, mas ainda há um potencial de crescimento. "Acho que atualmente as principais referências do subgênero estão associadas a esportes mais populares em outros países (hóquei, futebol americano, patinação), então a combinação de esportes mais populares no Brasil e romance pode levar o subgênero a outro patamar. O Te vejo na final, do Ayslan Monteiro, é uma aposta neste sentido para nós", explica.
Segundo o levantamento da Nielsen, os livros de ficção com temática esportiva venderam 3.825 exemplares e renderam R$ 186 mil de faturamento para as editoras entre julho de 2022 e julho de 2024, número ainda baixo comparado ao universo do setor.
"Acho que o sport romance é muito popular ligado a comédias românticas, sejam adultas ou jovem adultas", comenta Julia. "Acho que a carga de tensão e expectativa que o esporte traz funciona muito bem com o gênero. Também é bem popular com o new adult, um subgênero que traz os desafios, medos, anseios e conquistas de pessoas que estão no começo da vida adulta, por muitos deles se passarem na faculdade, um cenário bem propício para trazer o esporte em cena, principalmente quando estamos falando de universidades estrangeiras. Com fantasia acho mais difícil de executar, porque você teria que ambientar o leitor não só de um universo novo, mas também de todo um conjunto de regras esportivas novas".
Futebol e personagem LGBTQIAP+
Em Te vejo na final, o escritor sergipano Ayslan Monteiro conta a história de Edinho Meteoro, ex-promessa do futebol brasileiro que ganha uma nova chance na carreira quando é convocado para a Copa do Mundo. "Edinho finalmente terá a chance de conquistar seu lugar de destaque no futebol, mas ele precisará enfrentar o país que o abandonou, uma federação homofóbica e colegas de time que claramente não o desejam ali — além dos sentimentos confusos por um certo jogador alemão — para realizar seus sonhos", diz a sinopse da editora.
Sobre o livro, o escritor respondeu a algumas perguntas do PublishNews:
Antes, o esporte foi o que me motivou a escrever a história do Edinho. Durante as preparações para a Copa de 2022 no Catar, a discussão sobre diversidade no futebol estava viva como nunca. Até que confrontei o dado de que durante toda a história das Copas, nunca existiu um jogador abertamente gay jogando. Isso, claro, era um dado sintomático da homofobia no futebol, mas ainda assim era meio chocante, né? Então vi que existia uma história ali, de imaginar a possibilidade de como seria ter um jogador abertamente gay na Seleção e indo pra Copa.
Como você avalia a recepção dos leitores em relação especificamente a esse aspecto, digamos, esportivo?
Tem sido mista. O subgênero de "romance de esporte" foi durante muito tempo dominado por esportes pouco brasileiros. Hóquei, futebol americano, etc. Então uma história LGBTQIAP+ situada justo no futebol acabou dividindo opiniões. De um lado, o público heterossexual é mais resistente em aceitar/acreditar na possibilidade de existência de um Edinho Meteoro. Do outro, o público LGBTQIAP+ não se sente muito confortável no universo do futebol, então tendem a não apostar no livro. Mas, quando os dois públicos dão uma chance, acabam curtindo muito a experiência e ouvir "nossa, eu nem gostava de futebol, mas amei o livro" não tem preço.
Você se inspirou em outros autores ou obras para inserir na história o elemento de esportes?
Não necessariamente. As minhas referências esportivas acabaram sendo obras bibliográficas mesmo, para estudar sobre o esporte e a história das Copas. Apesar de admirar muitos autores que escrevem esse subgênero, queria que a história de Edinho fosse muito conectada com o futebol, então acaba que as dinâmicas de construção do personagem eram muito próprias do esporte. Um jogador de hóquei americano e um garoto preto e gay do nordeste tem vivências completamente diferentes.