A importância do encontro é levar ao público análise de cunho antropológico e vivencial a partir do posicionamento de Soares acerca das questões pessoais contidas nas crônicas do rapper MV Bill e Celso Athayde (outro participante da obra), além de conscientizar os leitores sobre as diversas realidades que existem dentro de um mesmo Brasil.
“Desde 2005, quando publicamos Cabeça de Porco, um rio passou em nossas vidas. Primeiro, nos carregando para o alto, de onde vislumbrávamos um horizonte de sonhos, com redução de desigualdades, expansão da cidadania, afirmação democrática. Depois, transformando-se em tsunami, arrastando o país pra beira do abismo neofascista. Vinte anos velozes e furiosos, no Brasil e no mundo, mostraram que nenhuma conquista está consolidada, nem mesmo o senso de realidade, nem a vida no planeta está garantida, e que só haverá futuro digno se recomeçarmos a luta pelos direitos humanos todos os dias”, afirma o cientista político Luiz Eduardo Soares.
Um dos objetivos da sessão de agosto do Clube de Leitura CCBB 2024 é, segundo a curadora e mediadora, Suzana Vargas, cativar um olhar mais atento do público em geral para as condições em que vivem as pessoas pobres, pretas e periféricas. “Ao mesmo tempo, queremos chamar a atenção dos leitores jovens e adultos para a relevância que existe na leitura de relatos semelhantes que nos levam a pensar que na vida e no Brasil não existem soluções mágicas”, conta Suzana.
Constituído através de relatos, crônicas e breves ensaios, Cabeça de Porco permanece atual e urgente, lançando luzes sobre a gravíssima questão da violência urbana, desde situações reais até testemunhos pesados sobre o cotidiano nas favelas e nas periferias do Rio de Janeiro e de diversos estados brasileiros.
Para o rapper MV Bill, trazer esse conteúdo à tona com tamanha relevância é sinal de que pouquíssimas coisas mudaram, e em alguns aspectos até pioraram. “É de extrema importância e relevância termos esta discussão e, principalmente, num lugar tão emblemático quanto o CCBB. Vai ser uma oportunidade única de refletir sobre a nossa realidade social e racial. Por mais que o livro tenha recorte na criminalidade, ele fala muito sobre essas questões, sobre política, favelas e distribuição de renda”, define.
