Em defesa da memória e do território kaingang
PublishNews, Redação, 30/07/2024
No livro de poemas 'Retorno ao Ventre', Jr. Bellé conecta a história da família ao movimento de resistência vivido pelos povos indígenas no Sul do país

Quando as lembranças de Pedrolina deterioravam-se pelo Alzheimer, ela ligou para o sobrinho e escritor Jr. Bellé para contar uma história até então desconhecida. A família deles, majoritariamente branca, estabelecida no sudoeste do Paraná, vinha de raízes indígenas, possivelmente kaingang. É um relato parecido com a de diversos brasileiros e atravessa a própria formação do país: vítima de um bugreiro alemão, sua tataravó era uma criança indígena que nasceu, viveu e morreu sem registros oficiais ou alguém para relembrar sua trajetória às gerações seguintes. Foi o autor que tomou para si esse compromisso e preencheu as lacunas da memória com ficção em Retorno ao ventre – Mỹnh fi nugror to vẽsikã kãtĩ (Elefante, 168 pp, R$ 60). Na obra, tia Pedrolina também aparece, mas, diferente da vida real, ela está no leito do hospital quando compartilha as escassas lembranças sobre sua ancestral. A partir desse momento, os poemas começam a refletir sobre as consequências do violento processo de ocupação de terras indígenas por colonos brancos: a "marcha para o oeste". Um de seus episódios inaugurais foi a primeira expedição militar da República em direção ao "grande sertão", ou "vazio demográfico", como era chamado o sudeste do Paraná. Contudo, o lugar era o lar e o território de inúmeros povos originários.

Tags: Elefante, poemas
[30/07/2024 07:00:00]