Quando Claude Lefort publicou o livro O trabalho da obra Maquiavel (Todavia / Editora UFMG, 800 pp., R$ 189,90 – Trad.: Gabriel Pancera, Helton Adverse e José Luiz Ames) na França, há cinquenta anos, estava inaugurando uma leitura de Maquiavel absolutamente inovadora, resultado de uma pesquisa de doutorado, realizada sob a direção de Raymond Aron. Nesta interpretação o autor nos apresenta sua própria leitura, avançando em uma direção pouco explorada: aquela que conduz ao conflito como um aspecto estruturante da vida política. O Maquiavel de Claude Lefort está muito além do conselheiro do príncipe ou do fundador da ciência política. Ele é o pensador da divisão social, dos impasses da política e dos desafios da liberdade. O que esses textos ensinam o leitor não é propriamente uma “ciência política”, no sentido de um saber completo que nos daria um acesso privilegiado à cena pública. Maquiavel, de acordo com a perspectiva de Lefort, segue outra direção: aquela que denuncia nos saberes “totalizantes” a marca da “ideologia".