Uma releitura da última peça escrita por William Shakespeare
PublishhNews, Redação, 12/07/2024
Em 'Uma tempestade', o dramaturgo Aimé Césaire explora os efeitos da colonização sobre a cultura e identidade dos povos nativos, além de debater sobre as relações de poder e controle entre colonizador e colonizado

Uma tempestade (Temporal, 144 pp, R$ 68 – Trad.: Margarete Nascimento dos Santos) é uma das releituras feitas a partir de A tempestade, de William Shakespeare, última peça escrita pelo autor inglês, que trata de relações de legitimidade e usurpação. Na trama, Próspero, duque de Milão, é deposto por seu irmão, Antonio, e exilado em um navio com sua filha Miranda, que atraca em uma ilha com dois habitantes: Ariel e Calibã. As reinterpretações latino-americanas desta peça têm explorado a dinâmica entre Próspero, o colonizador europeu, e seus auxiliares escravizados, Ariel e Calibã. Próspero, que foi usurpado de seu ducado, torna-se o usurpador da ilha que pertencia a Calibã: ele lhes ensina sua língua e acredita tê-los "civilizado". Ao adaptar a peça do dramaturgo elizabetano para um teatro negro, enfatiza-se que a peça deve ser interpretada por um elenco negro, sobretudo porque o autor martinicano adiciona à caracterização de Calibã como um escravo negro, e Ariel é retratado como um escravo negro de pele clara, referido como mulato no original. O foco principal de Aimé Césaire nesta versão é o personagem de Calibã, a quem ele associa aos Panteras Negras norte-americanos. Em sua interpretação, o autor se indigna com a brutalidade e arrogância de Próspero, retratado como um homem indulgente, o que lhe pareceu refletir a típica mentalidade europeia. Sua proposta é apresentar uma nova perspectiva, a do colonizado, questionando a visão eurocêntrica da obra original.

Tags: Teatro, Temporal
[12/07/2024 07:00:00]