
"A ideia e organização da Feira são muito boas. Ficamos felizes com o movimento do final de semana, mas durante a semana acaba deixando a desejar. Acredito que a feira com três ou no máximo quatro dias seja o ideal", avalia o editor da Contexto e da Labrador, Daniel Pinsky.
O livreiro e dono da rede Livraria da Travessa, Rui Campos, afirma que a maior duração, com dois fins de semana, viabiliza um melhor investimento no estande para a livraria. “Aprovamos. Contudo, ouvimos várias editoras reclamando. Como é algo que eles não dominam (atender ao público, promover o encontro com os livros), o alongamento se mostra penoso”, comentou. “O local (Pacaembu) é tão adequado a um evento como esse que vale o sofrimento da obra”, pontuou.
A pedido do PublishNews, o coletivo Sete Selos escreveu em conjunto uma posição sobre os assuntos que estão sendo discutidos diariamente na Praça. O coletivo é formado pelas editoras Âyiné, Bazar do Tempo, Carambaia, Círculo de Poemas, Cobogó, Fósforo e Ubu, que se juntam num dos estandes.
“Não podemos negar que as obras no estádio atrapalharam um pouco o fluxo e a dinâmica da Feira, mas o novo desenho proposto pela organização ajudou a minimizar os problemas. A circulação pelo centro da praça, a nova posição do palco e a organização da praça de alimentação são os pontos altos do novo projeto”, avaliaram as editoras.

O livreiro e distribuidor Vitor Tavares, que está na Feira com a Livraria Loyola, afirma que todo evento literário que promova o encontro de autores e autoras com o leitor precisa e deve ter o apoio de toda a sociedade, em especial do poder público. “Somos um país de baixo índice de leitura e eventos como esse contribuem muito para melhorar esse índice”, aponta.
“Acredito que a Feira do Livro de SP veio para ficar, porém essa edição apresentou problemas que precisam ser corrigidos e assim receber melhor o visitante. Pelo perfil do evento, nove dias acho demais, é cansativo e custoso para os expositores. Cinco dias fica legal, abre em uma quarta e encerra no domingo”, sugeriu.
“Mesmo com toda a história e o charme do local, com obras da reforma no Estádio e do Metrô tudo ficou confuso, há tapumes por todos os lados, movimentação de máquinas pesadas, pó, barulho. A praça Charles Miller não favoreceu nessa edição”, avaliou – lembrando também da dificuldade de estacionar na região. A própria Feira recomenda que os visitantes não vão de carro.
“Para nós, expositores, senti certa falta de critérios mais claros na escolha/sorteio das tendas. Penso não ser fácil para os organizadores desenhar algo que contemple a todos, mas me preocupa e é desmotivador deixar um expositor menor atrás de outros maiores e na 'boca do gol', com quatro, cinco e até seis tendas. Repensar o layout para que favoreça a todos é urgente”, explicou. “Não é um evento fácil de organizar, são heróis os profissionais que organizam a Feira”, contemporizou.

Ele também sugeriu um destaque ainda maior para movimentos literários da periferia de São Paulo. “São sugestões, como parceiros d’A Feira do Livro, queremos vê-la crescer cada vez mais! Acreditamos no potencial do evento para democratizar o acesso à cultura e aproximar livros e leitores apaixonados pelo livro e a cidade de São Paulo”, afirmou.
Sobre esses e outros assuntos do evento, o PublishNews entrevistou o diretor cultural d’A Feira do Livro, Paulo Werneck.
Entrevista – Paulo Werneck, diretor cultural d’A Feira do Livro
“Um festival não pode ser estanque, tem que sempre inovar e inventar”
PublishNews – Já existe uma avaliação oficial sobre os primeiros dias da Feira, especialmente a segunda-feira e a terça-feira, em termos de movimento de pessoas?
Paulo Werneck – Estamos conversando com os expositores e com a equipe interna, colhendo impressões e observando a repercussão. A impressão geral é bastante positiva, mas não há um balanço fechado ainda. O sábado foi um dia de sol e muito público, e o domingo, que foi de muito frio, registrou boas vendas, segundo o que os expositores relataram. O público dos debates também foi muito bom. A fila de autógrafos da Camila [Sosa Villada] ia longe depois das 21h.
– A decisão de estender o evento para nove dias teve qual intenção?
Teve a intenção de aproximar o formato das feiras de rua que nos inspiram, como as feiras ibéricas e a de Porto Alegre, que duram algumas semanas, diferente do formato colado no feriado de Corpus Christi que adotamos nas edições anteriores. Pegar dois fins de semana fortes em vendas nos pareceu uma boa ideia, com dias úteis que abrem a possibilidade de públicos diferentes daquele dos sábados e domingos. Além disso, acreditamos que os dois fins de semana ajudam a criar um “seguro meteorológico”, ou seja, reduzir as chances de prejuízo se chover em um dos fins de semana.
– Vocês consideram que a obra no Estádio e na estação de Metrô próxima tenha tido algum impacto nesses primeiros dias da Feira?
Não consideramos que houve impacto, pois realizamos muitas conversas para que o espaço pudesse ser compartilhado. Essa costura para ocupar juntos o espaço público é algo que traz desafios, mas também é um exercício democrático muito interessante, estamos dividindo a praça com trabalhadores das obras com muito respeito mútuo.
– A "planta" da Feira foi alterada esse ano, suponho que também na intenção de abrigar mais expositores. Houve alguma outra adaptação mais significativa em relação ao ano passado, pensando no espaço físico do evento?
As adaptações realizadas para proporcionar o convívio com as três obras que estão ocorrendo na praça acabaram levando a mudanças na planta que deverão ficar no futuro e às quais provavelmente não teríamos chegado em condições normais. Consideramos que deu certo a criação de um segundo núcleo de circulação com a área de bancadas e a praça de alimentação. As vias laterais mais largas também criaram uma circulação externa, ativando as fachadas dos espaços expositivos. Aproveitamos para corrigir erros, melhorar pontos problemáticos, criar novas soluções. Todo ano a planta será adaptada e aperfeiçoada.
– Quais são os critérios utilizados pela Feira para a disposição dos expositores?
Temos um sistema de prioridades que considera diversos critérios, como a participação em edições anteriores e o apoio aos projetos da Associação Quatro Cinco Um. Queremos retribuir quem está conosco o ano todo e não só nos dias da Feira.
– Alguns editores envolvidos na programação da Feira notaram que houve um "aperto" na divulgação das informações relativas à programação. Houve algum atraso nesse sentido?
Este ano conseguimos iniciar o trabalho mais cedo, em janeiro, mas foi uma edição muito desafiadora em vários aspectos. Muitas definições importantes desta edição, em diferentes camadas da produção, só ocorreram aos 47 do segundo tempo. Mas conseguimos realizar e estamos felizes com isso. Para o ano que vem pretendemos adiantar ainda mais o trabalho e já iniciar a próxima Feira em julho, agosto.
– Vocês já pensam em alguma mudança para o futuro do evento?
Estamos sempre pensando, olhamos para esta Feira já imaginando a do ano que vem. E um festival não pode ser estanque, tem que sempre inovar e inventar.
Confira a programação oficial d'A Feira do Livro nos próximos dias:
- Quinta, 4 de julho
15h • Palco da Praça
[Literatura brasileira] SOBRE CRUSHES, COSMOS E BRUXAS
Um encontro com Bia Crespo, Caio Yo e Carol Chiovatto, destaques da nova literatura juvenil brasileira que dão novos contornos à representação das mulheres e de pessoas LGBTQIAP+ à ficção pop contemporânea. A mediação é de Tiago Valente. Parceria: Companhia das Letras.
16h30 • Palco da Praça
[Seminário: Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas] LEITURA OBRIGATÓRIA
Lara Rocha e Fernanda Sousa debatem a seleção de obras unicamente de mulheres no vestibular da Fuvest, que interpela o cânone e marca um novo momento na promoção da literatura feminina. A mediação é de Janine Durand.
18h • Palco da Praça
[Música] INFÂNCIA RECOMPOSTA
O cantor e compositor Nando Reis lança n’A Feira do Livro o seu volume de memórias e relembra sua trajetória e seus grandes sucessos em um bate-papo com Roberta Martinelli, que será transmitido pela Rádio Eldorado FM.
19h30 • Palco da Praça
[Biografia] VIRADA DE JOGO
Quando a vida ganha rumos imprevistos e dolorosos, abrem-se possibilidades de transformação. O educador Rodrigo Hübner Mendes e o ex-jogador de futebol Walter Casagrande conversam sobre os livros que narram o valor da mudança em sua trajetória. A mediação é de Gaía Passarelli.
- Sexta, 5 de julho
15h • Palco da Praça
[Literatura brasileira] NOVOS REPERTÓRIOS
Uma conversa entre Lucas Rocha e Aline Zouvi sobre a importância de levar as narrativas LGBTQIA+ para bibliotecas, livrarias e festivais literários. A mediação é de Clara Rellstab.
16h30 • Palco da Praça
[Seminário: Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas] FORMAR LEITORES, FORMAR PROFESSORES
O professor é uma figura crucial na formação de leitores, mas como se dá a sua própria formação como leitor? Diana Navas e Ana Barbara debatem o assunto com mediação de Marisa Lajolo.
17h30 • Auditório Armando Nogueira
[Cultura indígena] DIÁRIOS YANOMAMI
Testemunhas dos ataques sofridos pelo povo indígena com a invasão de garimpeiros desde os anos 2010, Mozarildo Yanomami e Darysa Yanomami conversam com a antropóloga Hanna Limulja e apresentam o livro que traz seus depoimentos. Apoio: ISA.
18h • Palco da Praça
[Praça de Aula] CATÁSTROFE CLIMÁTICA E RACISMO AMBIENTAL
A catástrofe no Rio Grande do Sul escancarou a vulnerabilidade à crise climática a que as populações periféricas, negras e indígenas são submetidas. Juliana Borges e Luciana Travassos buscam responder: o que isso muda na sala de aula?
19h30 • Palco da Praça
[Poesia] SLAM, RAP E PERIFERIA
Destaques da cena literária periférica de São Paulo, o rapper Rashid e a slammer Mel Duarte mostram por que o hip hop é central para a renovação da poesia no Brasil de hoje. A conversa é mediada por Izabela Moi, diretora da Agência Mural de Jornalismo das Periferias.
- Sábado, 6 de julho
10h • Palco da Praça
[Literatura] O DIA EM QUE APAGARAM A LUZ
A autora argentina Camila Fabbri fala do livro em que relembra o incêndio que deixou 194 mortos numa boate em Buenos Aires em 2004, com mediação de Anna Virginia Balloussier.
10h15 • Auditório Armando Nogueira
[Política] PERSPECTIVA AMEFRICANA
Juliana Borges conversa com o ator e dramaturgo Clayton Nascimento, autor da premiada peça Macacos, que investiga as diferentes faces do racismo.
11h45 • Palco da Praça
[Literatura brasileira] VIDAS PELAS MARGENS
A escritora paulistana Lilia Guerra fala sobre os personagens e as histórias da periferia de São Paulo. A mesa encerra a segunda temporada do Clube do Livro da Rádio Eldorado FM, apresentado por Roberta Martinelli.
12h • Auditório Armando Nogueira
[Literatura brasileira] FAROESTE CABOCLO
O escritor brasiliense Dan e o pesquisador e jornalista paulistano Bruno Paes Manso conversam sobre as formas de retratar a violência e a criminalidade em seus livros. A mediação é de Amauri Arrais, editor da Quatro Cinco Um.
13h30 • Palco da Praça
[Poesia] FLORES DA BATALHA
Expoente da cena literária paulistana, o poeta e criador da Cooperifa Sérgio Vaz fala com Camilla Dias sobre sua trajetória, arte e as diferentes batalhas de que participa.
14h • Auditório Armando Nogueira
[Literatura] ENTRE BOIS E MOSQUITOS
Um diálogo entre a ficção punk-gauchesca do argentino Michel Nieva e o thriller distópico do autor mato-grossense Joca Reiners Terron, com mediação de Schneider Carpeggiani.
15h • Palco da Praça
[Crítica literária] NARRATIVAS ANTIRRACISTAS
O historiador Henry Louis Gates Jr. e a escritora Jamaica Kincaid, dois importantes autores contemporâneos, dialogam sobre seus escritos, que vêm mudando a história literária afro-americana. Mediação de Juliana Borges, colunista da Quatro Cinco Um.
15h30 • Auditório Armando Nogueira
[Literatura brasileira] EM BUSCA DO PAI
A figura paterna é o tema da conversa entre o ensaísta José Henrique Bortoluci, que perfilou seu pai, caminhoneiro, que morreu de câncer no fim de 2023, e a poeta Julia de Souza, que escreveu sobre a progressiva perda do pai para a demência e a morte. A mediação é de Paulo Roberto Pires, editor da revista Serrote e colunista da Quatro Cinco Um.
17h • Palco da Praça
[Literatura LGBTQIA+] LIVROS E LIVRES
A evolução dos direitos LGBTQIA+, do movimento pioneiro nos anos 70 às conquistas no século 21, está no foco deste debate entre o historiador norte-americano James Green e o pesquisador Renan Quinalha, colunista da Quatro Cinco Um. A mediação é de Helena Vieira.
17h30 • Auditório Armando Nogueira
[Literatura] REESCRITA DA ESCRAVIDÃO
O ensaísta, poeta e ficcionista norte-americano Jabari Asim, autor de Em algum lugar lá fora, discute as representações literárias da vida sob a escravidão nos EUA do século 19, com mediação de Adriana Ferreira Silva.
19h • Palco da Praça
[História] 60 ANOS DO GOLPE
O escritor Marcelo Rubens Paiva e o historiador Luiz Felipe de Alencastro analisam os efeitos de 21 anos de autoritarismo na sociedade brasileira e as perspectivas atuais para a democracia. A mediação da conversa é da jornalista Patricia Campos Mello.
- Domingo, 7 de julho
10h • Palco da Praça
[Ciências sociais] FORMAS DE AFETO
A psicanalista paulistana Vera Iaconelli e a psicóloga guarani Geni Núñez conversam com Martha Nowill sobre descolonização dos relacionamentos afetivos e interpelam conceitos como maternidade, monogamia e outras formas de amor.
11h45 • Palco da Praça
[Literatura e ditadura] PÁGINAS DE UM PAÍS
Consagrados e em plena atividade, os autores Maria Adelaide Amaral e Ivan Angelo conversam sobre seus livros, brilhantes retratos literários de uma geração que moldou a TV, a cultura e o jornalismo nos anos 70 e 80. Mediação de Marta Góes.
12h • Auditório Armando Nogueira
[Literatura japonesa] HOMENAGEM A LEIKO GOTODA
A mais importante tradutora de literatura japonesa no Brasil é homenageada nesta mesa que reúne Rita Kohl, tradutora da nova geração, e Luara França, editora que trabalhou em suas traduções. A mediação é de Gabriela Mayer.
14h • Auditório Armando Nogueira
[História] AVENIDA REBOUÇAS
A diretora do Arquivo Nacional Ana Flávia Magalhães e a historiadora Hebe Mattos, que organizou as cartas e os diários de André Rebouças, discutem a vida, as ideias e o legado do abolicionista.
15h • Palco da Praça
[Meio ambiente] NATUREZA EM CHAMAS
A Amazônia e o cerrado são o cenário da reportagem e do romance discutidos nesta mesa com João Moreira Salles e Pablo L.C. Casella sobre as implicações culturais, políticas e ambientais da devastação dos biomas brasileiros. A mediação é de Maria Guimarães.
15h30 • Auditório Armando Nogueira
[LAUT – Liberdade e Autoritarismo] DITADURA NUNCA MAIS
A resistência das famílias de “desaparecidos” durante a ditadura militar é objeto de dois livros lançados no aniversário dos 60 anos do golpe de 1964. A mesa com o advogado, autor e pesquisador Pádua Fernandes e o jornalista e escritor Camilo Vannuchi tem mediação da professora de direito Luciana Reis.
17h • Palco da Praça
[Memória] SEMPRE PARIS
Tradutora de Sade, Céline e Proust, a autora Rosa Freire d’Aguiar rememora em um bate-papo com Ruan de Sousa Gabriel a efervescência cultural, política e comportamental de Paris, onde foi correspondente e vivia com o economista Celso Furtado.
17h30 • Auditório Armando Nogueira
[Literatura brasileira] TEMPO MÃE
A escritora e professora de literatura Silvana Tavano discorre sobre o tempo, suas memórias da mãe e a escrita de romance para ressuscitar passados e inventar futuros. A mediação é de Iara Biderman, editora da Quatro Cinco Um.
Horários d'A Feira do Livro 2024:
De 1 a 5 de julho - 12h às 21h
6 de julho– 10h às 21h
7 de julho – 10h às 19h
Praça Charles Miller – São Paulo / SP