Um panorama histórico e filosófico do clitóris
PublishNews, Redação, 19/06/2024
Em 'O prazer censurado', a filósofa francesa Catherine Malabou propõe inverter o paradigma e considerar o clitóris como um órgão de pensamento, e não apenas de prazer

O clitóris, o único órgão "que serve apenas para o prazer", foi historicamente apagado do pensamento ocidental. Ignorado em pinturas e esculturas, inexistentes nas discussões sobre sexo e ausente até de livros técnicos de anatomia, foi suprimido de todas as reflexões e representações consagradas. Em O prazer censurado (Ubu, 128 pp, R$ 59,90 - Trad.: Célia Euvaldo), a filósofa francesa Catherine Malabou se dedica não só ao estudo do clitóris como a seu apagamento nas narrativas hegemônicas ocidentais sobre o prazer e o corpo. Apesar da recente onda de reconhecimento e até celebração do clitóris, Malabou argumenta que esse órgão ainda não é suficientemente teorizado: ele permanece enigmático, com potencial para estimular a reflexão sobre o corpo humano e de ressignificar a divisão rígida estabelecida entre "masculino" e "feminino". Teria o clitóris sido censurado justamente por confundir as atribuições binárias sustentadas com fervor ao longo de séculos? Seu apagamento representaria a intolerância do patriarcado em relação ao prazer sentido por certos corpos? Teria o clitóris sido afastado, disfarçado e mutilado por sua natureza indomável? Malabou traz para sua escrita a problematização queer, intersex e trans das ondas feministas anteriores, responde à prática da mutilação genital e oferece uma crítica contundente à normatização do sexo, propondo com isso uma visão do clitóris como um órgão de pensamento, e não apenas de prazer.

[19/06/2024 07:00:00]