A autodefesa de um negro acossado pelo racismo
PublishNews, Redação, 28/05/2024
Perspectiva lança nova edição de 'Sitiado em Lagos', de Abdias Nascimento, fora de catálogo há 40 anos

O Festac 77 foi um festival idealizado para celebrar e exibir ao mundo a força da cultura africana e afrodescendente. Ao longo de quatro semanas (de 15 de janeiro a 12 de fevereiro de 1977), expoentes negros da música, das artes plásticas, da dança e do teatro se apresentaram em Lagos, na Nigéria. O coração do festival era, no entanto, o colóquio que reuniria centenas de intelectuais de todas as partes do mundo e que abordaria o legado da colonização e a situação dos afrodescendentes no mundo, com forte participação dos EUA e do Brasil, onde se encontravam (e ainda se encontram) as maiores comunidades negras fora da África. Mas o Brasil vivia uma ditadura já de 13 anos, com toda sorte de violações dos direitos humanos, censura e impedimentos de manifestações, milhares de cidadãos exilados e onde um indivíduo poderia ser preso apenas por não estar com seu documento de identidade (principalmente se fosse negro ou pardo). Quando Abdias Nascimento, ativista, homem de teatro (criador do Teatro Experimental do Negro) e professor da Universidade do Estado de Nova York, decidiu participar do colóquio, o governo brasileiro declarou-lhe guerra. Sitiado em Lagos (Perspectiva, 144 pp, R$ 49,90) é o registro dessa guerra. Abdias Nascimento não apenas denuncia o cerceamento que lhe é imposto, como expõe a pressão diplomática e as calúnias de que o Itamaraty faz uso junto às autoridades e à imprensa nigerianos visando impedir que ele participasse do colóquio e denunciasse o que acontecia no Brasil, em particular a violência contra sua população negra, vítima do insidioso racismo do país.

Tags: Perspectiva
[28/05/2024 07:00:00]