Evento 'Língua Mãe' discute a diversidade de línguas indígenas
PublishNews, Redação, 13/05/2024
Evento ocorre no Museu das Culturas Indígenas, em São Paulo, e no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro

Seis eventos gratuitos acontecem entre os dias 18 e 22 de maio, em São Paulo e no Rio de Janeiro | © Divulgação
Seis eventos gratuitos acontecem entre os dias 18 e 22 de maio, em São Paulo e no Rio de Janeiro | © Divulgação
O evento Língua Mãe é descrito pelo curador Ailton Krenak e pelas curadoras Suely Rolnik e Andreia Duarte como um “encontro-ritual”. A partir dessa ideia, querem “mobilizar”, nas palavras de Krenak, e apontar dois pontos importantes e cada vez mais discutidos no Brasil e no mundo: de um lado, a afirmação das diversas línguas indígenas na cena da disputa política pelos territórios originários e seu apagamento ao longo dos séculos; de outro lado, quer evidenciar os esforços para revitalização dessas línguas. O evento ocorre nos dias 18 e 19 de maio, em São Paulo, no Museu das Culturas Indígenas do Estado de São Paulo (Rua Dona Germaine Burchard, 451 –São Paulo / SP), e dia 22, no Rio de Janeiro, no Centro Cultural Banco do Brasil (Rua Primeiro de Março, 66 – Rio de Janeiro / RJ), com realização do Prince Claus Fund e da Outra Margem. Os ingressos são gratuitos.

Nesta primeira edição, a curadoria procurou reunir nos seis encontros, ao longo de três dias, ao lado de apresentações e performances, representantes de povos de diferentes territórios – Maxakali, Krenak, Guarani, Tupi, Baniwa, Kokama, Pataxó, Terena, Kaingang, Xavante, Guajajara –, além de pesquisadores e ativistas das línguas indígenas para tratar dessa questão cara ao Brasil: a monocultura da língua portuguesa.

“Essa semente das línguas nativas, ela sempre esteve dormindo no meu coração. Minha etnia, meu povo Krenak, sofreu um desastre na história do contato com a língua dos colonos, dos vizinhos: ela foi comendo a memória linguística dos nossos avós, dos nossos bisavós, ao ponto da minha geração, que está agora com 70 anos, não ser mais falante desde criança da língua. Portanto, da mesma maneira que eu reivindico um direito territorial, reivindico também um direito subjetivo da linguagem. A língua é parte dessa cosmopolítica, um elemento fundador da identidade, que potencializa a nossa relação com o mundo. Se vamos perdendo essa potência da língua, também vamos diminuindo a nossa capacidade de intervir no mundo. Quer dizer, é uma monocultura. E a monocultura é um risco grave”, diz Krenak sobre seu desejo de fazer este “encontro-ritual”.

O encontro dialoga com a Década Internacional das Línguas Indígenas, instituída pela UNESCO para o período de 2022 até 2032. A entidade reconhece que estas línguas guardam saberes ancestrais sobre seus territórios, sobre a floresta, sobre os processos de cura e são instrumentos de combate contra a crise climática. “O que acho mais interessante pensar é que essas línguas, e no caso do Brasil, as mais de 300 línguas, instituem outros mundos que não apenas esse que estamos acostumados. Ao fundar outras formas de viver por meio da linguagem, isso nos dá muitas possibilidades de prospectar como podemos criar a nossa vida, pessoalmente e coletivamente”, afirma Andreia Duarte.

A série de encontros de Língua Mãe foi dividida em temas que tratam da importância da linguagem em diferentes abordagens, desde a ação persistente do Estado brasileiro em apagar as memórias linguísticas, até a apresentação ao público de como no Brasil, os saberes, as cosmologias, as redes de linguistas indígenas ao lado de seus anciãos revitalizam suas línguas mapeando os idiomas falados no cotidiano das comunidades indígenas, dando atenção às línguas de sinais indígenas, à temática do português com influência da palavra indígena e resgatando as línguas adormecidas por meio de diferentes tecnologias. “Como diz Ailton, ‘a monocultura linguística é um projeto e não uma consequência da história colonial que instituiu a sociedade brasileira’. A contracorrente deste projeto, os movimentos dos indígenas e dos afrodescendentes têm ativado suas línguas ancestrais, logrando tensionar a monocultura linguística dominante. Juntar vozes destes movimentos que operam na direção deste tensionamento, injetando a música que se compõe entre elas nas veias do corpo social brasileiro, é o gesto com o qual Língua Mãe participa deste movimento”, diz Suely Rolnik.

Programação

Em São Paulo, no dia 18 de maio, Nhe`e - palavras-espíritos ou cápsulas das "boas palavras" inaugura as conversas com representantes do povo Guarani, anfitriões territoriais, e sugere uma discussão sobre a importância da linguagem Guarani na construção do bem-viver e as tensões políticas de silenciamento e apagamento da memória e a resistência desses povos.

Línguas-espíritos e as tecnologias ancestrais na revitalização das línguas indígenas traz para o debate a importância dos saberes das línguas indígenas na produção dos seus modos de existência e também aponta como alguns trabalhos estão sendo feitos para revitalização de línguas adormecidas, com metodologias, mapeamentos, registros e tecnologias. Um pé no mundo outro na aldeia: indígenas em situação urbana, como o título sugere, pretende pensar o resgate das línguas em contextos urbanos, com a presença indígena desde escolas até universidades, e diálogos com anciãos comunitários. O sentido do Nhe`e, que significa “boas palavras” na cosmologia Guarani e seu potencial de germinação de novos sentidos.

Também no dia 18, em São Paulo, acontece a performance Antes do Tempo Existir, performance artística baseada no espetáculo de mesmo nome, com Lilly Baniwa, de Campinas, que foi construído a partir da memória dos povos originários e seu diálogo entre as variadas existências do planeta; e, para finalizar o primeiro dia, o canto Saudação dos MestreS de SabereS do Museu das Culturas Indígenas se apresenta e faz uma roda junto ao público.

O Grupo Miitxya Fulni-ô, de Águas Belas, no interior do Pernambuco, apresenta, no dia 19, sua dança tradicional, o Toré, entoada em cantos (cafurnas) na sua língua mãe. Após a apresentação, o grupo explicará a importância do idioma falado para sua cultura.

No Rio de Janeiro, o evento acontece dia 22 de maio e tem como primeiro encontro Palavra Criadora - Tecendo línguas: a emergência das línguas indígenas, que aborda a monocultura linguística na história colonial brasileira e propõe uma reflexão sobre a importância do fortalecimento da diversidade das línguas indígenas no Brasil, na disputa pelos rumos do país. Podemos, de fato, cambiar o mundo? encerra o primeiro Língua Mãe com um encontro para trocas entre bolsistas e premiados pela Prince Claus Fund, trazendo suas experiências e contribuições por meio de suas linguagens sociais e artísticas.

Carlos Tukano, da Aldeia Maracanã, do Rio de Janeiro, apresenta o Canto Sagrado da Cultura Tukano, na abertura do evento, que também conta com fala de Ailton Krenak.

Confira a programação

São Paulo Museu das Culturas Indígenas do Estado de São Paulo - (Rua Dona Germaine Burchard, 451 –São Paulo / SP)

18 de maio de 2024

  • Abertura - Horário: 10h
  • Instituto Maracá - Cristine Takuá e Carlos Papa (Terra Indígena Rio Silveira, Bertioga - SP)
  • Antes do Tempo Existir - (Performance artística baseada no espetáculo de mesmo nome), com Lilly Baniwa (Campinas - SP)
  • Apresentação com Ailton Krenak (Terra Indígena Krenak, Resplendor - MG)

Encontros

  • Nhe`e - palavras-espíritos ou cápsulas das "boas palavras" - Horário: 11h às 13h30
  • Línguas-espíritos e as tecnologias ancestrais na revitalização das línguas indígenas - Horário: 15h às 17h
  • Saudação dos MestreS de SabereS do Museu das Culturas Indígenas - Horário: 17h às 18h | Mestres de Saberes irão fazer uma saudação na própria língua, finalizando o dia com um canto e roda junto com o público.

19 de maio de 2024

  • Um pé no mundo outro na aldeia: indígenas em situação urbana - Horário: 10h às 12h
  • O sentido do Nhe`e - Horário: 15h às 17h
  • Grupo Miitxya Fulni-ô (Águas Belas-PE) - Virada Cultural - Horário: 17h às 18h

Rio de Janeiro - Centro Cultural do Banco do Brasil (Primeiro de Março, 66 – Rio de Janeiro / RJ)

22 de maio de 2024

  • Abertura - Apresentação com Ailton Krenak (Terra Indígena Krenak - MG)
  • Canto Sagrado da cultura Tukano, com Carlos Tukano (Aldeia Maracanã, Rio de Janeiro - RJ)

Encontros

  • Palavra Criadora - Tecendo línguas: a emergência das línguas indígenas - Horário: 10h às 12h
  • Podemos, de fato, cambiar o mundo? - Horário: 14h às 16h
[13/05/2024 09:00:00]