História de amor gay do começo do século XX para a Antiguidade
PublishNews, Redação, 28/03/2024
Romance queer 'O Beijo de Narciso', escrito em 1907 por Jacques Fersen; obra ganha pela primeira vez uma tradução em língua portuguesa

O beijo de Narciso (Ercolano, 144 pp, R$ 79,10 – Trad.: Régis Mikail) é uma fantasia histórica, rica em detalhes, que permite ao leitor mergulhar na Antiguidade do espaço mediterrâneo, região que serviu de exílio ao poeta e romancista francês Jacques d’Adelswärd-Fersen. As origens de Fersen remetem à burguesia industrial e à aristocracia. Sua obra reflete a tensão de seus desejos homossexuais, criminalizados na época em que escrevia, sendo, inclusive, um contemporâneo de Oscar Wilde e tendo presenciado o processo que levou o autor de O retrato de Dorian Gray à prisão. A vida de ambos escritores é permeada pelo esteticismo fin-de-siècle e pelos escândalos caros ao decadentismo. Na vida real, Fersen foi processado por atentado à moral e aos bons costumes, acusado de ter contratado colegiais para comporem tableaux vivants em suas extravagantes festas em Paris. Suas condições financeiras possibilitam seu exílio em Capri, onde construiu a mítica Villa Lysis (que existe até hoje), uma espécie de concretização da sonhada “tebaida refinada” que o personagem Des Esseintes, do romance Às avessas, de J.-K. Huysmans, anunciou. Aos vinte e quatro anos, na Itália, Fersen conheceu o belo jovem romano Nino Cesarini. Propõe à família humilde do rapaz que este parta com ele para Capri e seja seu secretário. Segundo os relatos da época, aliás, houve rixas entre homens e mulheres que disputavam Nino entre si. Na obra romanesca de Fersen, vida e arte se confundem. Ele escreveu O beijo de Narciso em clara alusão ao seu amor por Nino, com quem viveu até sua morte precoce em 1923, há precisamente 100 anos, quando se suicidou em casa, adicionando a uma taça de champanhe uma dose de cocaína.

[28/03/2024 07:00:00]