
Segundo a autora, o livro mostra como a política afeta diretamente a vida das pessoas. “Não podemos simplesmente dizer que não gostamos desse tema. Tudo é política”, enfatiza. Vera argumenta também que a obra retrata uma época anterior a muitos avanços nas pautas relacionadas aos direitos femininos. “Vivenciei o mundo antes e depois do ‘não é não’, e sei do impacto que isso teve para as mulheres. Não conheço uma mulher com mais de 40 anos que não tenha sofrido abuso sexual, e o que é pior, sem ter consciência de que aquilo era um abuso”, revela Saad.
A face mais doce do azar é narrado a partir das percepções de Dubianca, uma menina na pré-adolescência, inteligente e sensível. No começo da obra, a garota, também chamada de Dubi ou Bianca, vive na pele os desacertos da política econômica brasileira ao precisar se mudar, junto com os pais, para o porão da casa dos tios após a família perder a estabilidade financeira e com ela a moradia.
Além de política e governo Collor, Vera elenca também como temas do livro família e abuso sexual. “Como o livro trata de uma família, pensei que a menina é sempre o lado mais frágil da corda. Quis dar voz a essa garota, seria a vez dela de contar a própria história”, argumenta a autora. Há uma sutileza na inserção do assunto ao mesmo tempo que a escritora consegue criar uma atmosfera de tensão crescente entre as duas personagens envolvidas no ato. O livro retrata ainda o efeito devastador que essa perversão causa na vida de uma pessoa.
Vera Saad é natural de Ourinhos, interior de São Paulo, mas cresceu e vive atualmente na capital do estado. É formada em jornalismo pelo FIAM-FAAM Centro Universitário, mestre em Literatura e Crítica Literária e doutora em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP). A trajetória literária da escritora começa ainda nos anos de 1990 quando vence o concurso de contos Sesc On-line em 1997, avaliado pelo consagrado autor Ignácio de Loyola Brandão. A escritora foi ainda finalista do VI Prêmio da Jovem Literatura Latino-Americana com o romance Estamos todos bem.