Editora Serra da Barriga estreia com nova edição do clássico 'Na roda do samba', de Francisco Guimarães
PublishNews, Redação, 05/12/2023
Livro do jornalista também conhecido como Vagalume, lançado em 1933, é um dos primeiros registros da história do samba carioca

Capa da nova edição de 'Na roda do samba', da editora Serra da Barriga | © Divulgação
Capa da nova edição de 'Na roda do samba', da editora Serra da Barriga | © Divulgação
A Editora Serra da Barriga estreia no mercado editorial com uma nova edição do clássico Na roda do samba, de Francisco Guimarães, o Vagalume. Na obra, lançada originalmente em 1933, o autor se dedica a documentar a gênese do samba e seus personagens pioneiros. A organização desta edição, feita pelo historiador Leonardo Affonso de Miranda Pereira, recebe notas e posfácio que proporcionam ao leitor "uma melhor fruição do texto original", segundo a editora.

A Serra da Barriga é o local onde instalou-se o Quilombo do Palmares, maior território de resistência à escravidão em terras brasileiras. "Nosso desejo é que a editora Serra da Barriga, assim como a região simbólica, possa também acolher e proteger a memória do povo negro por meio de seus livros", explicam Jaime Filho, jornalista, e Andréia Amaral, editora, fundadores do selo.

A nova casa é uma editora de não ficção empenhada em publicar histórias de pessoas negras. O foco será o de publicar biografias de personalidades pretas e pardas e livros sobre música que representem a diversidade da música preta: seja samba, funk, jazz, rap, blues, trap ou soul.

Em Na roda do samba, Francisco Guimarães apresenta um dos principais estudos sobre a origem do samba e, principalmente, do desenvolvimento do gênero em terras cariocas. Lança seu olhar preciso sobre a teia criativa e suas peculiaridades no início da década de 1930, sobre os encontros e desencontros de uma sociedade em construção 40 anos após a abolição da escravatura e sobre a articulação intelectual e crítica dos pensadores negros do período.

Jornalista, Vagalume circulava pelos terreiros e quintais, pelas rodas de samba, pelos bares e pelas vielas. Conhecia o eró da macumba e as dificuldades dos trabalhadores braçais da cidade. Atravessava o Rio e descortinava os encantos da noite. A nova edição conserva fotos de alguns personagens citados na edição original e acrescenta outras, também como resultado do trabalho de pesquisa feito para este relançamento.

Nas palavras do historiador e antropólogo Vinícius Natal, que assina a orelha do livro, “Francisco Guimarães nos chama a atenção sobretudo para a atuação crítica de pensadores negros em busca de sua própria modernidade, no fazer cultural da cidade. Com este livro, fica posto o vigor que os debates em torno da cultura popular negra tinham, e têm, até hoje, sendo o samba um dos principais organizadores do pensamento sobre um Brasil complexo, diverso, plural, mas não menos excludente. Sambando e escrevendo, Vagalume soube fazer história e, certamente, tem muito a nos ensinar sobre o passado e o presente”.

Sobre o autor

Francisco Guimarães, conhecido pelo pseudônimo Vagalume, foi um importante cronista carnavalesco do início do século XX, no Rio de Janeiro. Sua data de nascimento é incerta, provavelmente entre 1875 e 1880. Filho de trabalhadores negros e pobres, cresceu em uma cidade que vivia o período pós-abolição, e, aos 14 anos, incentivado por um repórter que conheceu quando trabalhava como auxiliar de trem na Estrada de Ferro Pedro II, foi parar na redação de um jornal.

Alguns anos depois, já assinava a coluna “Reportagem da Madrugada”, no Jornal do Brasil. Acompanhava atentamente as transformações que ocorriam na capital federal e se dedicava a registrar o cotidiano dos subúrbios cariocas ainda incipientes, os distritos policiais, a rotina dos trabalhadores da noite e as rodas dos primeiros batuques daquilo que posteriormente seria reconhecido como samba.

Em 1904, Vagalume criou a coluna "Ecos Noturnos", na Tribuna da Imprensa, espaço no qual registrou os primeiros momentos de compositores e intérpretes, como Cartola, Heitor dos Prazeres e Sinhô, antes de se tornarem ícones do samba. Seu trabalho destacava a influência africana na criação do gênero musical e marcava a transição do ritmo que começava a deixar as comunidades negras para fazer parte das rodas da classe média, integrar o repertório das rádios e os bailes dos clubes carnavalescos cariocas.

Em 1933, publicou o livro Na roda do samba, com as fotografias dos personagens dos morros do Rio e do ritmo que se tornaria a identidade do Brasil. Seu trabalho contribuiu para a consolidação do samba como elemento da cultura nacional e o reconhecimento dos artistas que estiveram em sua origem.

Francisco Guimarães morreu em janeiro de 1946.

[05/12/2023 10:50:00]