Encontro literário celebra os 88 anos de Adélia Prado em São Paulo
PublishNews, Redação, 05/12/2023
Realizado pela Fundação Maria Luisa e Oscar Americano, o evento contará com a presença da filha da escritora, Ana Prado, da tradutora de Adélia para o inglês, Ellen Watson

Adélia Prado|© Jackson Rommanelli
Adélia Prado|© Jackson Rommanelli
No sábado (09), a Fundação Maria Luisa e Oscar Americano vai celebrar a obra de Adélia Prado, relevante poeta brasileira da contemporaneidade. Realizado na própria Fundação (Av. Morumbi, 4077 – São Paulo / SP), localizada no bairro do Morumbi, o encontro literário 'Vamos Falar de Adélia Prado' contará com participações inclusive de fora do Brasil.

Este será o quinto evento da Série Literária 2023, que busca conectar o público com a sensibilidade das palavras de grandes escritores. Às vésperas do aniversário de 88 anos de Adélia, a programação vai apresentar, a partir de diferentes perspectivas, um panorama profundo da vida e da obra dessa que é considerada uma das autoras mais importantes da língua portuguesa.

Às 10h30, o bate-papo 'Adélia Prado: amada em vários idiomas' vai reunir a convidada internacional Ellen Doré Watson, que desde os anos 1970 traduz os poemas da escritora para o inglês, e a diretora e atriz Ana Beatriz Prado, filha de Adélia.

Também estarão presentes o crítico literário, poeta e editor Augusto Massi, que a partir das 14h discorrerá sobre o trabalho expressivo e a trajetória da poeta, na palestra 'Desatinos de Adélia', e a atriz Natália Lage, que dará voz a poemas de Adélia Prado ao final do encontro. Haverá intervalo para o almoço.

“Nas últimas décadas, o Brasil acompanhou a produção de grandes escritoras da geração da Adélia Prado e, hoje, vê surgir novas autoras mulheres que trazem para o mundo literário pautas cada vez mais atuais”, afirma Rodrigo Lacerda, editor-executivo da Record e um dos curadores do evento. “Além de ser uma das poucas autoras ainda em plena atividade de sua geração, Adélia estabelece de modo muito singular uma ponte entre essas duas gerações, unindo o passado e o presente da literatura brasileira”, complementa Lacerda.

A poeta do cotidiano

Nascida em 13 de dezembro de 1935, Adélia Prado publicou o primeiro livro, Bagagem, aos 40 anos, já mãe de cinco filhos. Sua poesia chamou a atenção de Carlos Drummond de Andrade, que, assim como ela, também utilizava a palavra para desbravar o cotidiano e valorizar suas raízes mineiras. “Eu não me voltei para a literatura, me descobri nela”, diz Adélia em entrevista ao Sesc de 2014.

Durante sua carreira como escritora, Adélia Prado produziu uma ampla variedade de gêneros, desde poemas, contos e romances a livros infantis. Das marcas mais frequentes em sua obra estão o existencialismo, histórias do dia a dia e religiosidade. “Mas não é uma religiosidade carola”, pontua Rodrigo Lacerda. “A religiosidade da obra de Adélia é atravessada pelas questões mundanas, como desejo e angústia, ressaltando uma profunda consciência crítica da sociedade e do papel da mulher”, afirma Lacerda. No texto da orelha de Miserere (2013, Editora Record), livro de poemas mais recente da poeta, Adélia pontua que “a experiência religiosa é uma experiência poética”, pois ambas as linguagens “apresentam falta de lógica racional” e prestam “obediência única ao estatuto interno da expressão”.

Em sua carreira literária, Adélia Prado ganhou não apenas o Brasil, mas o mundo. Sua obra se encontra editada em inglês, italiano e espanhol, além de ter poemas traduzidos para o alemão, francês, polonês e chinês. Uma das responsáveis por tal disseminação é a poeta estadunidense Ellen Doré Watson, elogiada recentemente pelo The New York Times, que descobriu a obra de Adélia quando morava em Florianópolis, no fim dos anos 1970. Chegou a visitar a escritora brasileira muitas vezes na década seguinte, enquanto trabalhava nos rascunhos da tradução que resultou no livro “The Alphabet in the Park: Selected Poems of Adélia Prado”, publicado pela Wesleyan University Press em 1990 e recebido com entusiasmo por ilustres poetas norte-americanos.

Hoje, Adélia faz parte da paisagem literária, como afirma Augusto Massi, professor de Literatura Brasileira na Universidade de São Paulo (USP) e um dos palestrantes do evento do dia 9 de dezembro. “Sua fortuna crítica não para de crescer, quase ultrapassou uma centena de teses universitárias, ganhou os palcos e rompeu as fronteiras da língua”, afirma Massi.

[05/12/2023 10:00:00]