Uma utopia festeira, anticlassicista e transgênero
PublishNews, Redação, 30/10/2023
A história de amor entre Qüity, uma cronista da sessão policial de um jornal, e Cleópatra, uma travesti que abandonou a prostituição desde que a Virgem Maria apareceu para ela

Nossa Senhora do Barraco (Moinhos, 158 pp, R$ 60 – Trad.: Silvia Massimini Felix), de Gabriela Cabezón Cámara, é uma narrativa cheia de inventividade e com múltiplas camadas de interpretação. Cleópatra, uma travesti, depois de sofrer uma atrocidade enquanto estava presa, acaba por ter uma revelação mística: a Virgem Maria surge para conversar com ela. Decide, então, que não irá mais se prostituir e começará a cuidar do seu povo. Quando Cleópatra adquire um novo status, quase o de uma santa milagreira, passa a ser respeitada e conhecida por suas ações, que começam a ecoar e a chamar a atenção. Qüity, uma jornalista da imprensa sensacionalista que busca retratar histórias marginalizadas, fica a par de tudo que está por trás da figura de Cléopatra e resolve entender um pouco mais sobre esse “fenômeno”, envolvendo-se cada vez mais com a vida cotidiana da favela e com a própria travesti. Gabriela Cabezón Cámara se utiliza da dor, do humor, do choro e das drogas para mostrar como a nossa humanidade, até quando ao lado de Nossa Senhora, de nada vale frente a um contingente policial que nos criva de balas. Nossa Senhora do Barraco é uma narrativa que não conta apenas a vida de pessoas consideradas à margem da sociedade: ela evidencia toda a brutalidade sofrida pelo povo de El Poso, uma violência que se estende a todas as periferias do mundo.

Tags: Moinhos, romance
[30/10/2023 07:00:00]