O luto e a resiliência dos seres humanos dentro de uma narrativa
PublishNews, Redação, 26/10/2023
Han Kang é capaz de urdir grande literatura a partir de uma memória profundamente pessoal

Esta é uma narrativa sobre o luto e a resiliência dos seres humanos ― além de ser o livro mais pessoal de Han Kang até agora. Em O livro branco (Todavia, 160 pp, R$ 64,90 – Trad.: Natália T. M. Okabayashi), durante a estada em uma cidade europeia coberta pela densa neve invernal, a narradora é repentinamente tomada pela lembrança de sua irmã, que morreu recém-nascida nos braços da mãe. Ela luta com essa tragédia que definiu a vida da família, um evento que reaparece repetidamente em imagens tomadas por esta cor que evoca o luto em algumas culturas orientais: o branco do leite materno e da fralda, o branco do sal e da neve, o branco da magnólia, a pele branca da bebê como um bolinho de arroz em formato de lua. É por meio desse léxico que a narradora avança na releitura de sua própria história. Assim, cada capítulo recebe o nome dessas coisas brancas. E rememoram, por meio de uma prosa habilmente arquitetada, aquilo que Camões definiu como “a grande dor das coisas que passaram”. Mas sem arroubos sentimentais. Pois é com a mesma suavidade que ela empreende uma viagem em direção aos sentimentos mais íntimos de uma mulher sobre si mesma.

[26/10/2023 07:00:00]