Panini responde por mais de 50% dos títulos de quadrinhos publicados por editoras no Brasil, aponta relatório
PublishNews, Beatriz Sardinha, 25/10/2023
Os dados são do Relatório Quadrinhopédia do Mercado Editorial Brasileiro de Quadrinhos, realizado pela Quadrinhopédia​, do pesquisador e quadrinista Lucio Luiz

Em 2022, o Brasil teve mais de 2,2 mil títulos de quadrinhos publicados, houve um pequeno crescimento em comparação com 2021 e os números indicam um aquecimento no mercado após a pandemia da Covid-19. Os dados são do Relatório Quadrinhopédia do Mercado Editorial Brasileiro de Quadrinhos, realizado pela Quadrinhopédia, do pesquisador e quadrinista Lucio Luiz. O documento tem como foco divulgar a produção impressa da nona arte no Brasil, e, por metodologia, não considerou títulos publicados de forma independente por autores. 42,6% do total dos quadrinhos publicados no Brasil são da Mauricio de Sousa Produções (MSP).

Inspirada principalmente na Lambiek Comiclopedia e na Enciclopédia dos Quadrinhos, a Quadrinhopédia foi desenvolvida pelo pesquisador e quadrinista Lucio Luiz a partir de sua experiência como criador e editor, desde 2005, de mais de mil artigos relacionados a quadrinistas brasileiros na Wikipédia. O Relatório foi inspirado no Rapport Sur la Production d’une Année de Bande Dessinée Dans l’Espace Francophone Européen (“Relatório sobre a produção de um ano em quadrinhos no espaço europeu de língua francesa”), feito por Gilles Ratier entre 2000 e 2016.


A produção brasileira encontra-se bastante fragmentada, o que dificulta a realização de um levantamento sólido da produção independente brasileira. Em 2021, foram publicados 2.130 títulos diferentes pelas editoras. Em 2022, esse número subiu para 2.262.

Títulos publicados por editora

Atualmente, uma única editora concentra a grande maioria dos títulos ligados às principais editoras norte-americanas de super-heróis (Marvel e DC Comics), praticamente todas as publicações da MSP e boa parcela dos mangás lançados no Brasil: a Panini Comics (que, tecnicamente, é filial de uma editora italiana). Sozinha, a editora responde por mais de 50% dos títulos de quadrinhos publicados por editoras no Brasil. Para Lucio Luiz, tirando a editora “onipresente”, a maioria das demais casas que publicaram material nacional foram as independentes e de pequeno e médio porte.


Preço de capa dos títulos

É possível observar uma tendência de aumento na quantidade de títulos acima de R$ 100 (de menos de 6% para quase 10%), muito provavelmente em decorrência dos fortes e constantes aumentos do preço do papel que vêm ocorrendo especialmente desde o início da pandemia de Covid-19. Em relação aos títulos que custam até R$ 10, a quase totalidade (com pouquíssimas exceções) é de publicações voltadas para o público infantojuvenil. Os gibis da Turma da Mônica (Panini) e Disney (Culturama), sozinhos, correspondiam a pouco mais de 76% deste total em 2021, e exatos 75% no ano seguinte.

Para Lucio Luiz, idealizador do relatório, os dados do preço de capa são bastante interessantes e contrastam com uma visão geral do público leitor: "Digo isso porque vejo muita discussão (e nesse caso principalmente entre o público leitor) sobre quão caros os quadrinhos estão, o que não é a realidade ao se olhar o todo (embora venha aumentando, mas até aí todo o mercado editorial está sofrendo isso)", comenta.

Países de origem das publicações

Em 2021 e 2022, títulos brasileiros correspondiam a 20% do total de publicações. Estados Unidos e Japão são os países estrangeiros mais presentes no mercado brasileiro de quadrinhos, seguidos quase de perto pela Itália, que também conta com uma fatia considerável de títulos. O outro país com algum destaque é a França, com cerca de 2% do total de títulos. Além dos quatro países citados, apenas a Coreia do Sul conseguiu passar de 1% do total de títulos em 2022.

Os títulos originários dos EUA, são em sua grande maioria ligados às editoras de super-heróis (quase 80% dos títulos norte-americanos publicados no Brasil é material da Marvel, DC Comics e, em menor grau, Image, Dark Horse e outras). A editora Panini, sozinha, responde por mais de 75% das publicações. Vale destacar que Panini, JBC e NewPOP foram responsáveis por mais de 95% dos títulos japoneses lançados no Brasil.

Títulos nacionais

Embora o total de títulos de origem nacional esteja por volta de apenas 20% do total de publicações do mercado editorial brasileiro de quadrinhos, este também constitui o tipo de material mais “equilibrado” na comparação entre as editoras, com a exceção da Panini, com 42,6% do total de títulos nacionais em 2021 e 2022, que se devem em grande parte ao material da Mauricio de Sousa Produções (MSP). A partir do levantamento, foi possível observar que há uma grande variedade de trabalho por parte das editoras. O documento, inclusive, classifica esse resultado como "surpreendente", e define o Brasil como "um país não muito amigável para projetos editoriais como um todo".

[25/10/2023 03:00:00]