Festa Literária da Mantiqueira 2023 tem edição com recorde de público e grande envolvimento da comunidade
PublishNews, Redação, 19/10/2023
Evento recebeu público presencial de 12 mil pessoas e transmissão online de toda a programação

Realizada entre os dias 12 e 15 de outubro, a 6ª edição da FLIMA – Festa Literária da Mantiqueira reuniu um público presencial de 12 mil moradores e turistas em Santo Antônio do Pinhal (SP), cidade de 7 mil habitantes situada na Área de Preservação Ambiental (APA) da serra da Mantiqueira. Em algumas mesas literárias e shows, não havia poltronas vagas no Auditório Municipal da cidade, com capacidade para 300 pessoas. O livro mais vendido foi Sonho manifesto (Companhia das Letras), de Sidarta Ribeiro.

O balanço parcial de vendas de livros no festival aponta que foram comercializados cerca de 3 mil livros nos quatro dias de evento. Segundo a Livraria Mantiqueira, livraria oficial da Flima, o resultado só não foi melhor porque as fortes chuvas a obrigaram a diminuir a área total de exposição de títulos. O livro mais vendido foi Sonho manifesto (Companhia das Letras), de Sidarta Ribeiro, com cerca de 250 exemplares comercializados, boa parte deles na sessão de autógrafos que durou mais de duas horas.

Para além da relevância cultural e literária, a FLIMA é importante para a economia de Santo Antônio do Pinhal, gerando dezenas de empregos diretos e centenas de empregos indiretos. A taxa de ocupação das pousadas foi de mais de 90% e as opções de hospedagem mais próximas ao Auditório esgotaram algumas semanas antes do evento, que contou, ainda, com uma área de alimentação com cerveja artesanal e foodtrucks, além de uma feira de produtores regionais, que reuniu produtores de azeite, chocolate, queijo, geleia, cosméticos naturais, padaria artesanal e micro torrefação de cafés agroecológicos, entre outras atrações. “Esses produtos de qualidade são uma manifestação cultural extremamente relevante, em especial quando traduzem o espírito da Mantiqueira”, afirma Roberto Guimarães, idealizador da FLIMA e curador da programação principal.

A mesa literária mais concorrida aconteceu na tarde de sexta-feira – “Oráculos ancestrais”, com Sidarta Ribeiro e Marcelo Leite, e mediação de Maria Carolina Casati – com um público total de mais de 1.000 pessoas – 700 delas acompanharam a conversa sobre sonhos e psicodélicos pelo telão que exibia a as atividades transmitidas pelo canal do YouTube e pelo Instagram do festival. Ao longo dos quatro dias, a programação online, que seguirá disponível, teve mais de 5.000 visualizações.

“Foi uma grande festa, a maior e mais pulsante edição da FLIMA. É claro que estamos felizes com a grande presença de público, especialmente considerando a restrição orçamentária para realizar um festival dessa magnitude, com 11 mesas literárias e mais de 100 atividades totalmente gratuitas para todas as idades. Mais do que números expressivos, porém, o que importa para nós é a relevância das conversas, a contribuição para o debate público de ideias e a possibilidade de ampliação do processo de escuta do outro. Essa é razão de existir do festival, a bússola que nos orienta desde 2018”, afirma Guimarães. De fato, a possibilidade de aprofundar as discussões, com mesas literárias que podem durar 1h30 ou mais, é uma das marcas-registradas da FLIMA. “Não faz sentido reunir autores interessantes e não dar espaço para que as pessoas desenvolvam seus raciocínios”, acredita.

“Autora faz chover”

Um dos destaques da programação principal foi a mesa de abertura da programação adulta, no início da tarde de quinta-feira: “Puris da Mantiqueira e caiçaras de Ubatuba”, com Aline Rochedo Pachamama e Adilson Zambaldi. Seguindo a tradição de olhar para o território em que está inserida e refletir sobre as questões ambientais a partir da ecologia, a conversa tratou das questões e interlocuções entre o povo puri da Mantiqueira e os caiçaras do litoral norte do estado de São Paulo. Em sua fala inicial, a historiadora e escritora Aline Rochedo Pachamama, ela própria Puri, entoou uma bela melodia que, segundo contextualizou, seria um chamado para a Mãe Terra. E literalmente fez chover.

A tempestade que se seguiu, com um vendaval raras vezes visto nos últimos 100 anos na região, derrubou dezenas de árvores e deixou cidades inteiras sem energia elétrica até meados da madrugada, incluindo a vizinha Campos do Jordão, o que obrigou a organização da FLIMA a readequar alguns espaços do festival – a tarefa envolveu cerca de 30 pessoas da produção que avançaram noite adentro, sob chuva e sem luz, permitindo que a FLIMA fosse realizada normalmente no dia seguinte, com grande público. “No auge da tempestade, muitos visitantes se mobilizaram para ajudar a organização. Foi um momento tocante, que certamente contribuiu para a FLIMA ser ainda mais transformadora para muita gente”, acredita Guimarães.

A chuva torrencial tornou ainda mais especial a segunda mesa literária, que marcou o lançamento nacional do livro de crônicas Marinheira no mundo (Primavera), de Ruth Guimarães, com a presença de seus filhos Joaquim Maria Botelho e Júnia Botelho (organizadora do livro). Os cerca de 100 participantes que não arredaram pé do Auditório Municipal acenderam as lanternas de seus celulares para ouvir a conversa mediada por Camilla Dias.

Crianças fazem homenagem a Ailton Krenak

Com 11 mesas literárias, a programação principal reuniu alguns dos principais autores do país, como Natalia Timerman, Julián Fuks, Marilene Felinto, Bruno Paes Manso e Luiz Eduardo Soares, além de escritoras e escritores que têm despontado na cena literária, como Helena Machado, Fred Di Giacomo, Lilia Guerra e Karin Hueck, que lançou na FLIMA – em mesa com Joca Reiners Terron –, seu primeiro romance A segunda mãe (Todavia), uma obra distópica que revela, num pano de fundo de uma crise conjugal de duas mulheres, as diversas formas de opressão na sociedade.

O encerramento do festival, domingo à tarde, levou as crianças cidade ao centro do palco. Em vez de repisar a batida pergunta “que mundo queremos entregar às novas gerações?”, e logo responder com as típicas propostas de adultos, a FLIMA decidiu fazer o caminho inverso e ouvir as crianças, colocando-as como protagonistas do processo de sonhar, imaginar e transformar o futuro – tema da curadoria da edição deste ano, que teve o escritor e ativista indígena Ailton Krenak como homenageado.

Inspirada no livro Além da chuva (FTD), de Michel Gorski e Fernando Vilela, a mesa “Ideias para mudar o mundo: a visão das crianças”, teve início algumas semanas antes do festival, com a leitura do livro e uma caminhada pelo rio da Prata “para ouvir o rio” e inspirar as crianças a ter ideias (muitas vezes aparentemente malucas) para limpar o rio e, assim, melhorar a vida de todos. “Foi sensacional ver a participação das crianças, seus desenhos e suas propostas”, afirma Michel Gorski, que, além de autor, é arquiteto e urbanista, e frequenta Santo Antônio do Pinhal há mais de 20 anos. “Não poderia imaginar encerramento melhor para o festival desse ano, com a participação das crianças e o trabalho conjunto entre a curadoria da programação principal e da programação infanto-juvenil, da Fliminha”, conclui Guimarães.

A FLIMA 2023 foi realizado com recursos de dois editais do ProAC, um para a programação adulta e outro para a programação infantil. Contou com o apoio de infraestrutura da Prefeitura Municipal de Santo Antônio do Pinhal, patrocínio do Picanha & Pasta, restaurante oficial da FLIMA, e apoio da Ufa Mulufa e da Cervejaria Araukarien. A programação cultural contou com parcerias de conteúdo regionais, de iniciativas públicas e privadas de municípios como São Bento do Sapucaí, São Francisco Xavier e Sapucaí-Mirim, da Casa Philos, do Forumdoc.bh e da Primavera Editorial. O apoio cultural da Vanguarda (TV Globo do Vale do Paraíba) e da Buriti Comunicação. A Livraria Mantiqueira foi a livraria oficial do festival.

[19/10/2023 10:30:00]