Histórias de fantasmas e outros contos estranhos do Japão antigo
PublishNews, Redação, 22/09/2023
Ao absorver tais contos orais do período imperial japonês, Hearn não deixa de imiscuir a própria cultura às histórias, incluindo goblins comedores de gente e intromissões espirituosas na forma de comentários entre parênteses ou notas

Irlandês de ascendência grega, imigrante nos Estados Unidos, repórter policial, amigo de assassinos e tradutor de Flaubert: eis Lafcadio Hearn, que teve sua vida temperada com doses iguais de errância e excentricidade, e passou seus últimos anos no Japão dos anos 1890, experiência que lhe rendeu esta antologia de contos recriados a partir das histórias contadas por Setsuko, sua companheira. Resultado do encanto do autor pelo desconhecido, Kwaidan (Fósforo, 240 pp, R$ 72,90 – Trad.: Sofia Nestrovski) fez de Hearn um dos maiores divulgadores da cultura japonesa no Ocidente. Com um título estranho ao nosso idioma — junção de dois kanjis em japonês que significam narrativa misteriosa ou fantasmagórica —, o livro põe em cena criaturas sem rosto que assombram um viajante desavisado, o espírito do inverno corporificado numa linda assassina de inocentes, fantasmas sem cabeça e demônios de toda espécie, alguns ilustrados no pôster que acompanha a edição. Ao absorver tais contos orais do período imperial japonês, Hearn não deixa de imiscuir a própria cultura às histórias, incluindo goblins comedores de gente e intromissões espirituosas na forma de comentários entre parênteses ou notas. Os elementos fantásticos e assombrosos se desdobram ainda na segunda parte do livro, dedicada exclusivamente ao mundo dos insetos. São relatos não ficcionais da presença de borboletas, formigas e mosquitos na cultura do Japão e da China. Trata-se, sem dúvida, de um ato de devoção à cultura nipônica, feito por um homem nascido no berço do Ocidente que, conforme escreveu em carta, desejava “poder reencarnar num pequeno bebê japonês”.

Tags: Contos, Fósforo
[22/09/2023 07:00:00]