Um capoeira no ativismo do pós-abolição
PublishNews, Redação, 13/09/2023
Representação encarnada do ativismo político negro e popular em um momento crucial da história do Brasil.

Em 13 de maio de 1888, a esmagadora maioria da população negra não vivia mais sob o status legal de escrava; era livre ou liberta. Com a Lei Áurea, as elites jogavam a toalha diante de um processo irreversível, e que haviam feito de tudo para retardar. Restava decidir sobre o sistema político: monarquia ou república? Qual dos dois regimes serviria melhor à nação? A população negra liderava a política das ruas e conduziu um intenso debate sobre esta questão em suas esferas públicas alternativas. A capoeiragem era um desses espaços, e Manuel Benício dos Passos, capoeira e agitador político, seu intérprete e porta-voz. Ele se notabilizou por performances públicas nas quais lia e discutia o noticiário político da época. Seus discursos ganharam os jornais. Talentoso com a palavra, poderia ter se tornado um político, um advogado, um jornalista. Porém, tido por louco ou desordeiro, foi preso várias vezes. Morreu jovem, aos 36 anos. "Longe, muito longe" é uma expressão do líder abolicionista André Rebouças. Assim, a obra Longe, muito longe (Zahar, 376 pp, R$ 99), de Walter Fraga, remete aos tempos áureos sonhados pela população negra naquele maio de 1888. Eram tempos que, de fato, pareciam estar muito longe, se é que chegariam. A vida de Manoel Benício dos Passos dá testemunho disso e sugere que aquela história segue perto, muito perto de nós.

[13/09/2023 07:00:00]