Uma amizade destruída pela arte
PublishNews, Redação, 23/08/2023
Como uma espécie de guia, Mark Haber conduz o leitor freneticamente pelas salas de museus da Europa

Após construírem suas carreiras escrevendo sobre uma única pintura, dois críticos de arte têm a amizade destruída por ela. O abismo de São Sebastião (DBA, 192 pp, R$ 65,90 – Trad.: Fábio Bonillo) é uma das três obras do pintor holandês conde Hugo Beckenbauer que sobreviveram a um incêndio devastador na Suécia do século XVII. Considerada pelos dois protagonistas deste romance uma obra-prima – ao contrário das outras duas obras do artista expostas no mesmo museu, que tomam como aberração –, a pintura, para eles, é um espelho do apocalipse, a representação perfeita do fim do mundo. “Não é uma paisagem, embora seja certamente pastoral. Não é religiosa, embora verta simbolismo religioso: apóstolos, iconografia, o burro sagrado, um céu fendido por tempestade divina.” Por meio de capítulos curtos de apenas um parágrafo – que, não por acaso, fazem lembrar O jardim de Reinhardt – Haber propõe, com humor e ironia, uma reflexão sobre arte, obsessão e amizade. Com ecos das investigações intelectuais de Roberto Bolaño e os monólogos ácidos de Thomas Bernhard, O abismo de São Sebastião reflete sobre a vida e a morte enquanto mistura comicidade e tragédia em uma prosa densa e envolvente e personagens ricos em nuances e complexidades. Como uma espécie de guia, Mark Haber conduz o leitor pelas salas de museus da Europa, especialmente do Museu Nacional d’Art de Catalunya, em Barcelona. É somente nas páginas do autor que o museu espanhol abriga O abismo de São Sebastião, pintura-chave que toma vida a partir das palavras e disputas de seus dois maiores especialistas.

Tags: DBA, ficção
[23/08/2023 07:00:00]