Contra a trivialização passiva da violência
PublishNews, Redação, 14/08/2023
'Kalash meu amor: A arma infame e outras delicadezas' (Gryphus) relaciona crise da democracia com apatia diante da crueldade

Tornou-se corriqueiro falar em crise das democracias, aumento sideral da violência, injustiça a granel. O que Kalash meu amor: A arma infame e outras delicadezas (Gryphus, 128 pp, R$ 49,90), de Marilia Pacheco Fiorillo, propõe de diferente é a conjugação de tais crises com um fenômeno pouco explorado: a apatia de boa parte da população diante do aumento da crueldade, como se isso fosse apenas o novo normal, um novo paradigma que veio para ficar, como a Inteligência Artificial. Para Fiorillo, não adianta apontar o dedo acusatório apenas para políticos e governos e esquecer que o “povo”, ou a massa de pessoas, tem um papel determinante nisso. O tema central deste livro é o embotamento da grande maioria da população diante de disparates de toda sorte e de crimes hediondos. Mais uma bala perdida que mata uma criança numa comunidade carioca? Normal, é todo dia. Mais um tiroteio de um maluco em uma escola? Nada de novo. Mais bombardeios letais, refugiados em campos insalubres, tráfico humano, milhares de civis assassinados mundo afora? Notícia velha. O livro de Marilia Fiorillo se insurge contra esta naturalização da crueldade, insidiosa e sedutora. E – está aí o diferencial – ressalta o papel dos espectadores nesta trivialização passiva da violência.

Tags: Gryphus, romance
[14/08/2023 07:00:00]