Desafio à hegemonia de pensamento do modernismo de 1922
PublishNews, Redação, 28/02/2023
Pesquisador propõe que, ao fixar o modernismo paulista como sendo o modernismo brasileiro, a crítica e a história literárias excluíram tudo aquilo que não cabia nesse modelo

A Semana de Arte Moderna de 1922 oficializou-se como o marco inicial do modernismo no Brasil. Entretanto, havia ali mais do que um manifesto artístico – assistia-se à tentativa de lançar um projeto de país. Estava-se diante do grito inicial de uma nova hegemonia, que, como Francisco Foot Hardman evidencia em A ideologia paulista e os eternos modernistas (Editora Unesp, 220 pp, R$ 54), tinha muito de paulista e esmaecia boa parte da riqueza de matizes da produção nacional. “Este volume reúne e articula, em seus 14 capítulos, uma seleção de ensaios em que tenho trabalhado, ao longo das últimas três décadas, diferentes espaços, temporalidades, sentidos e produções culturais cingidas entre modernização, modernidade e modernismo, para voltar a uma distinção importante de Jacques Le Goff”, explica o autor. O escritor observa como a modernidade literária brasileira pode ser antecipada em ao menos meio século em relação à Semana, quando diversos escritores já buscavam aquilo que o modernismo transformaria em programa, a chamada redescoberta do país. E mais: esses escritores já tinham a consciência do choque entre progresso técnico, por um lado, e as terríveis heranças que pesavam em nossa história, por outro. Analisando a obra de escritores como Augusto dos Anjos, Euclides da Cunha, Raul Pompeia, Silva Jardim e Sousândrade, Hardman se detém em diversos signos da modernidade que vinham de muito antes de 1922.

[28/02/2023 07:00:00]