Nós lança livro de guineense que se passa no Brasil
PublishNews, Redação, 22/12/2022
Tierno Monénembo, escritor africano exilado da Guiné, busca suas raízes ancestrais pro meio do romance ‘Pelourinho’

Alguns descendentes de Ndindi-Furacão, ancestral comum e rei da tribo dos Mahi, foram destruídos e deportados como escravos para o Novo Mundo. Para restaurar a memória dos africanos e seus descendentes dispersos pelo Atlântico Sul, Tierno Monénembo escreve o livro Pelourinho (Nós, 192 pp, R$ 70 - Trad.: Mirella do Carmo Botara). Não por acaso, essa busca genealógica de dimensões históricas é realizada no Pelourinho, centro histórico da capital da Bahia que abrigou um dos maiores portos de escravos do Brasil e das Américas. Quem se encarrega de contá-la são dois moradores do bairro: Innocencio, um malandro que ganha a vida explorando turistas e se dirige ao herói como “Escritore”; e Leda-pálpebras-de-coruja, uma costureira cega que, não obstante, tudo vê sob a luz de Exu e o chama de “Africano”. Em princípio desconectadas, essas duas vozes narrativas que se alternam desvelam fragmentos de uma filiação esquecida, reprimida, à imagem da história que une e separa a África de suas diásporas. Aos leitores, a instigante tarefa de recompor esta filiação através dos vestígios de um passado doloroso sutilmente dispersados ao longo da trama. Um dos raros autores francófonos a escolher o Brasil como interlocutor, Tierno Monénembo faz da história afro-brasileira, fundada no tráfico e na escravidão, o tema central de seu romance. Nesse sentido, Pelourinho pode ser lido como um desvio geopolítico dos embates pós-coloniais tão frequentemente explorados na literatura africana. Originalmente lançado em 1995, o romance coloca agora também à disposição do público brasileiro o deslocamento de perspectivas que o escritor guineano opera em seus caminhos transatlânticos, já que aqui é a África que se volta à diáspora em busca de sua ancestralidade.

[22/12/2022 07:00:00]