
"Meu pai era serralheiro civil", recorda a filha de Saramago, Violante Saramago Matos, que também seguiu a carreira de escritora. Ela ressaltou a importância da origem e da persistência do pai para moldarem sua visão social e seu sucesso, iniciado ao final dos anos 1970, quando ele estava próximo dos 60 anos de idade e decidiu se dedicar apenas à escrita.
Escrita esta que Saramago construiu de forma única, desconcertando até mesmo escritores, como disseram ao documentário Ignácio de Loyola Brandão (Prêmio Jabuti 2008 e membro da Academia Paulista de Letras) e Andréa del Fuego (Prêmio José Saramago 2011). O autor português reinventou a pontuação e mesclou os discursos direto e indireto de suas personagens, o que foi inaugurado no livro Levantado do chão. Lançada em 1980, a obra é fruto do contato direto de José Saramago com camponeses sem-terra da região do Alentejo, em Portugal, de onde o autor importou sua oralidade original e disruptiva.
O engajamento de Saramago fez com que Sebastião Salgado o convidasse, em 1997, para participar de seu livro de fotografias Terra, que trazia um CD de músicas do cantor e compositor Chico Buarque e teve o prefácio assinado por José Saramago. Em José Saramago: 100 Anos de um Contemporâneo, o fotógrafo brasileiro relembrou as correspondências com o escritor, assim como fez a dramaturga Maria Adelaide Amaral, responsável por adaptar O Evangelho segundo Jesus Cristo para o teatro.
Obra fundamental de Saramago, Ensaio sobre a cegueira foi considerada a mais perene e contemporânea pelo escritor moçambicano Mia Couto (Prêmio Camões 2013 e Prêmio Neustadt 2014). Couto reforçou também o papel de vanguarda de Saramago ao realocar positivamente a língua portuguesa na literatura mundial e considerou os livros do autor importantes agentes formadores da sociedade, opinião compartilhada por José Luís Peixoto, o mais jovem escritor vencedor do Prêmio José Saramago.