
O júri final do Prêmio Oceanos 2022 escolheu Líbano, labirinto (Editorial Caminho), da escritora portuguesa Alexandra Lucas Coelho, como o livro vencedor desta edição. O segundo lugar ficou com o romance Museu da revolução, do escritor moçambicano João Paulo Borges Coelho (Editorial Caminho / Kapulana). O pódio tem também outro romance: O som do rugido da onça (Companhia das Letras), da brasileira Micheliny Verunschk. O valor total do prêmio é de R$ 250 mil – R$ 120 mil para o primeiro colocado, R$ 80 mil para o segundo e R$ 50 mil para o terceiro.
O anúncio dos vencedores foi realizado nesta sexta-feira (9), em Moçambique, pela primeira vez em um país africano de língua portuguesa – e também pela primeira vez um livro de não ficção foi o vencedor.
Concorreram à edição 2022 do Oceanos 2.452 obras escritas por autores de 17 diferentes nacionalidades e publicadas em sete países: Angola, Brasil, Cabo Verde, EUA, Guiné-Bissau, Moçambique e Portugal. Neste ano, houve crescimento de 34% no número de obras inscritas em relação à edição anterior: 621 livros a mais que os 1.831 concorrentes ao Oceanos 2021. Apenas do continente africano, o aumento foi de 121% no número de escritores participantes.
O Oceanos é realizado em três etapas de votação até chegar aos vencedores. Ao todo, foram 7.881 leituras realizadas pelos três júris que se sucederam na seleção de semifinalistas, finalistas e vencedores. Participaram do júri final, que leu e avaliou os 10 livros finalistas para escolher os três vencedores, os brasileiros Cristhiano Aguiar, Guilherme Gontijo Flores, Joselia Aguiar e Júlia de Carvalho Hansen; o moçambicano Artur Bernardo Minzo; e as portuguesas Ana Cristina Leonardo e Helena Vasconcelos.
“Temos vencedores de países de língua portuguesa em três continentes, o que dá a ampla dimensão do que significa esta premiação para a produção que nos une e abre horizontes por meio das múltiplas culturas e de cada fazer literário”, diz Eduardo Saron, presidente da Fundação Itaú, que congrega o Itaú Cultural, apoiador ativo do Oceanos, em nota.
Os livros vencedores do Prêmio Oceanos 2022
- Líbano, labirinto (Editorial Caminho), de Alexandra Lucas Coelho, Portugal

“Nessa coleção de pequenas histórias de viventes no Líbano, a autora constrói um livro poderoso sobre os afetos e a guerra, a angústia e a esperança. A obra combina e atualiza gêneros de tradição: a crônica, a grande reportagem, a narrativa de guerra, o testemunho e a memória”, diz Joselia Aguiar, jornalista e curadora literária que fez parte do júri que elegeu a obra.
Alexandra Lucas Coelho nasceu em Lisboa, Portugal, em 1967. Tem 14 livros publicados, entre ficção, não ficção e infantojuvenis. Trabalhou por cerca de 30 anos como repórter, cronista e editora, na rádio e na imprensa. Recebeu vários prêmios de jornalismo e de literatura. Em 2012, recebeu o Grande Prêmio da Associação Portuguesa de Escritores (APE) pelo seu romance de estreia, E a noite roda (Tinta da China).
- Museu da revolução (Editorial Caminho / Kapulana), de João Paulo Borges Coelho, Moçambique

Artur Bernardo Minzo, professor moçambicano que também compôs o júri final do Oceanos, destacou no romance a abordagem crítica das funções dos museus, da memória das pessoas e dos próprios livros como “utensílios” de construção das identidades nacional e universal. “Museu da revolução esgravata as diferentes formas de (in)compreensão sobre as ‘guerras’ do projeto humano sempre inconcluso, destacando-se a guerra suprema pela vida e os ‘subconjuntos’ correlacionados: a guerra colonial em si, a guerra de tropas contra tropas inimigas, a guerra de países e suas ideologias antagônicas, a guerra de desejo de soldados contra o corpo de mulheres desprotegidas”, diz ele, em comunicado. “Mas, sobretudo, é a metáfora assombrosa da desqualificada e repugnante negação de valores como a vida, o amor, a paz, amizade, a verdade e a razão”, conclui.
João Paulo Borges Coelho nasceu no Porto, Portugal, em 1967, e naturalizou-se moçambicano. É escritor, historiador e professor da Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo. Publicou 13 livros e é vencedor do Prémio José Craveirinha e do Prémio LeYa.
- O som do rugido da onça (Companhia das Letras), de Micheliny Verunschk, Brasil

De acordo com a poeta brasileira Júlia de Carvalho Hansen, também integrante do júri do Oceanos, O som do rugido da onça "transforma os tempos passado e futuro, criando um romance histórico que é também contemporâneo”.
“Embora apresente parentescos com autores como Guimarães Rosa ou Mia Couto, enquanto apreende perspectivas de conhecimentos e mitos ameríndios, a escrita desse romance de Micheliny se faz única, reinventando com sofisticação e alegria a língua portuguesa”, continua a poeta para concluir: “além da rica originalidade textual, sua narrativa transporta e utiliza dentro da ficção questões urgentes aos debates contemporâneos: sejam elas ligadas à decolonialidade; ao reconhecimento da potência dos saberes da floresta ou mesmo da necessidade tão sutil como firme de operar a literatura através de posturas feministas.”
Micheliny Verunschk nasceu em Recife, Pernambuco, em 1972. Escritora e historiadora, é também mestre em Literatura e Crítica Literária e doutora em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica – PUC São Paulo. Publicou 10 livros, entre poesia e prosa, como Geografia íntima do deserto (Landy), Nossa Teresa – Vida e morte de uma santa suicida (Patuá), que venceu o Prêmio São Paulo de Literatura, e O movimento dos pássaros (Martelo).
Curadoria do Prêmio Oceanos 2022
Participam da curadoria do Oceanos 2022 o moçambicano Nataniel Ngomane, professor da Universidade Eduardo Mondlane e presidente do Fundo Bibliográfico de Língua Portuguesa, os jornalistas Isabel Lucas, de Portugal, e Manuel da Costa Pinto, do Brasil, e a pesquisadora Matilde Santos, de Cabo Verde, que também é curadora da Biblioteca Nacional do país. A coordenação-geral fica a cargo da gestora cultural luso-brasileira Selma Caetano.
Parcerias
O Oceanos é realizado via Lei de Incentivo à Cultura, pela Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo, e conta com o patrocínio do Banco Itaú e da Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas da República Portuguesa (DGLAB); com o apoio do Fundo Bibliográfico da Língua Portuguesa, do Itaú Cultural (IC) e do Ministério da Cultura e das Indústrias Criativas de Cabo Verde; e com o apoio institucional da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).