Um relato lúcido dos campos de concentração
PublishNews, Redação, 03/11/2022
Memórias do médico francês Fred Sedel exibem um vai e vem angustiante e a obsessão pela fuga de um presente ilógico, entre um passado e um futuro inatingíveis

Do final da Segunda Guerra à publicação de Habitar as trevas (Nós, 280 pp, R$ 68) na França, em 1988, passam-se 43 anos. Sua escrita, fruto de uma dor indescritível, traz o que a memória de Fred Sedel (1909-1991) pôde guardar e recriar em palavras do pesadelo vivido nos campos nazistas. Ao mesmo tempo que há uma riqueza de detalhes dos lugares por onde passou, uma consciência dos espaços que habitou, uma lucidez sobre sua situação física e mental e uma grande precisão médica em tudo o que observa, seu relato é marcado por imprecisões temporais, um vai e vem angustiante e a obsessão pela fuga de um presente ilógico em desconexão temporal, entre um passado e um futuro inatingíveis. Em 1943, aos 34 anos, o médico francês é capturado por soldados alemães na periferia de Paris e levado à Drancy, de onde inicia sua tenebrosa odisseia – como a de tantos outros – por diferentes campos de concentração e extermínio espalhados entre a Polônia e a Alemanha. Durante vinte e dois meses, de maneira improvável, Sedel tudo observa, sofre numerosos golpes de violência e de humilhação, mas resiste e sobrevive, graças a sua força, perspicácia e a uma série de lances de muita sorte que contribuíram para a preservação de sua vida.

[03/11/2022 07:00:00]