Um retrato cruel da repressão militar
PublishNews, Redação, 21/09/2022
'Em câmara lenta', de Renato Tapajós, descrito por Antonio Candido como o melhor exemplo da literatura feita durante a repressão, ganha nova edição, depois de 45 anos

Brasil, início dos anos 1970. De sua cela no presídio Tiradentes, o jovem paraense Renato Tapajós, que cumpria pena pelo envolvimento em ações de resistência à ditadura militar, escrevia, em letras miúdas sobre papel de seda, os capítulos daquele que se tornaria um dos romances mais impactantes sobre a luta armada, a repressão e a tortura durante o regime militar. Dobrado em pequenos retângulos envoltos em fita adesiva, o romance Em câmara lenta (Carambaia, 192 pp, R$ 69,90) foi dessa forma sendo levado, aos poucos, para fora da prisão – pelos pais do autor, que os colocavam sob a língua, durante suas visitas. Quando todos os pedaços puderam ser finalmente reunidos em um volume, o romance foi publicado em 1977, três anos depois da saída do autor da cadeia. No entanto, semanas depois do lançamento, Renato Tapajós, foi reconduzido à prisão pelo DEOPS, sob acusação de incitar a subversão, e uma ordem policial determinou a apreensão dos exemplares à venda. O romance teve outra edição em 1979, e só agora volta a ser publicado. Em câmara lenta se desenrola num fluxo de memória: o presente é de desencanto e autocrítica, e as lembranças voltam sempre para as atividades clandestinas do grupo semidesmantelado ao qual pertence o narrador. Há outros tempos, contudo, nesse prisma literário: a recepção das notícias do golpe militar de 1964 numa cidade do interior, os conflitos violentos entre estudantes de esquerda e de direita na Rua Maria Antônia, relatos da guerrilha do Araguaia e cenas de uma fuga da prisão.

[21/09/2022 07:00:00]