Para entender o Brasil contemporâneo e seus desafios sociais
PublishNews, Redação, 04/08/2022
Em novo livro, Jessé Souza fala ao leitor sobre o impeachment de Dilma Rousseff em 2016, para ele uma das manobras políticas mais torpes da história do Brasil; ele se propõe a evidenciar os mecanismos que permitiram às elites manipular a população

Poucos intelectuais e comentaristas políticos tinham tanta certeza quanto Jessé Souza de que o impeachment da presidente Dilma Rousseff se tratava da fachada perfeita para um típico golpe de Estado à moda brasileira. Naquele momento, Jessé cumpriu uma difícil tarefa: explicar como a “cultura de golpes de Estado”, promovida historicamente pela elite contra as políticas públicas de inclusão dos mais pobres – como aconteceu com Getúlio Vargas e João Goulart –, estava em franca atuação sem que a população se desse conta disso. Para ele, a movimentação política de 2016 recolocou em cena o falso moralismo da classe média indignada, que se valeu do argumento do “combate à corrupção” para, na prática, manter seus privilégios diante dos mais pobres e a exclusividade da primeira fila de sustentação da elite. Essa indignação se descolou dos grandes protestos de 2013 para ganhar a representação, manipulada e inflada pela mídia, da “vontade popular” que tomou as ruas nos atos pró-impeachment, anos depois. A herança do golpe (Civilização Brasileira, 182 pp, R$ 49,90), portanto, não é o governo Michel Temer, como primeiramente se poderia crer. Para Souza, a herança do golpe é o bolsonarismo, um conjunto de manipulações cognitivas e emocionais que explora a fragilidade das pessoas que não conhecem as razões de sua pobreza e humilhação. É justamente essa estratégia de dominação – fruto de uma ideologia racista, excludente e autoritária – que Jessé Souza quer desarmar neste livro.

[04/08/2022 07:00:00]