Sobre negritude e ancestralidade
PublishNews, Redação, 29/06/2022
Livro é uma antologia inédita de poemas de Oswaldo de Camargo, escritor que desmonta, através da literatura, alguns castelos em que se escondem o preconceito e o racismo

“Eu tenho a alma e o peito descobertos/ à sorte de ser homem, homem negro,/ primeiro imitador da noite e seus mistérios.” Assim começa o poema Atitude, de Oswaldo de Camargo, que inaugura a segunda parte deste livro. 30 poemas de um negro brasileiro (Companhia das Letras, 120 pp, R$ 54) é resultado da união de 15 poemas negros — lançado pela primeira vez em 1961, em uma edição limitada da Associação Cultural do Negro — e de poemas publicados nas obras O estranho e Luz & breu. Um dos mais importantes intelectuais brasileiros, Camargo traz nos versos deste livro sua autenticidade poética para tratar de negritude e ancestralidade. No prefácio de 15 poemas negros, reproduzido nesta edição, o sociólogo Florestan Fernandes evidencia que as palavras do jovem militante eram atuais à época e seguem atuais hoje, pois suscitam novos ensinamentos: “Ninguém melhor que um poeta para revitalizar as aspirações igualitárias […] que orientaram os grandes movimentos sociais negros da década de 1930”. Numa produção que perpassa mais de 40 anos de luta e resistência, esta antologia reforça a excepcionalidade da obra de Oswaldo de Camargo, que, a partir da experiência individual e coletiva de homem negro num país de passado escravocrata, reverbera sua voz atemporal. A obra da capa é de O Bastardo.

[29/06/2022 07:00:00]