Diário de Londres: das reuniões desmarcadas ao get together
PublishNews, Leonardo Garzaro*, 06/04/2022
O segundo dia de Leonardo na Feira de Londres foi marcado por encontros informais e visitas nos diversos estandes do evento

Quem nunca visitou uma feira de livros no exterior pode pensar que não há grande vantagem em gastar com o voo, hospedagem, alimentação, bem como ficar uma semana afastado do trabalho, para se dedicar ao evento. Se é possível fazer tudo virtualmente, para que viajar? Ao longo do último ano, e especialmente durante a pandemia, fiz diversas reuniões on-line, com agentes e editores de todo o mundo. E, justamente por conhecer bem do que se trata, posso afirmar que faz toda a diferença vir pessoalmente ao evento.

Quando se está em Londres, não se encontra os editores só durante as reuniões bem agendadas no sistema on-line. Encontramos os editores o tempo todo. Fui pegar um café e tinha acabado. Pela segunda vez! Brinquei que ia ficar lá para contar quantas pessoas tentavam a mesma coisa, sem sucesso. A Sophie Hignett, da RR Scouting, ouviu e riu. Começamos a conversar e ela me contou que está procurando novos autores de infantojuvenil. E, veja: eu estou justamente vendendo um livro infantojuvenil — ou Young Adults, como dizem deste lado do mundo. Trocamos cartões e vamos ver o que acontece!

No final do primeiro dia, estava sentado no estande do Brazilian Publishers, descansando o pé (que está severamente prejudicado, de tanto que eu andei), e surgiu um convite para um get together no estande da Itália. Lá fui eu. E a Silvia – agente italiana – perguntou se eu não era o editor que em Sharjah tinha subido na duna, durante o passeio no deserto, e… Neguei! Melhor dizer que não. “Era você sim!”, “Eu?”, desconversei. Logo fui apresentado a outros editores italianos e todos que lá estavam para desfrutar de canapés de batata com trufas, amêndoas salgadas e azeitonas. A melhor parte foi quando a Silvia disse ao garçom, que oferecia vinho: "Eu sou italiana. Não me diga que é vinho. Preciso saber qual vinho, de qual região da Itália". O garçom respondeu que era vinho espanhol e a conversa parou por aí.

Estou convidado também para um bolo no estande indiano e um jantar de pato com laranjas com os holandeses. E sigo aceitando tudo, afinal, nunca se sabe que oportunidade vai surgir!

O importante também nesses eventos é desenvolvermos a nossa capacidade de improvisação. As reuniões estão agendadas, mas não há tempo a perder. Minhas duas reuniões mais importantes eram com a Dixi Books, editora inglesa com quem estou trocando e-mails há seis meses, e com a Margaret Jull Costa, tradutora do Saramago. As duas foram desmarcadas, porque toda a equipe da Dixi pegou Covid em Bolonha e o marido da Margaret está doente, o que a fez cancelar a viagem a Londres. Sem problemas! Converti as reuniões presenciais em on-line para a próxima semana, e encaixei nos horários um bate-papo com o Daniel Hahn, que traduziu o incrível livro do Paulo Scott para o inglês, e com o Victor Meadowcroft, presidente da associação de tradutores. Encontrei ambos num café, de maneira inesperada, a caminho da feira, e aproveitei a oportunidade. Devem ter pensado que persigo tradutores!

Para o segundo dia, ainda está planejado aparecer sem convite no estande das editoras francesas com quem conversei na French Week Latina, e na mesa do pessoal que recebeu meu e-mail pedindo por uma reunião, mas nunca respondeu. Também vou abordar uma editora da Escócia que está organizando um retiro para escritores. E o estande da Eslovênia está na mira. Virtualmente, não é possível conhecer ninguém sem aceite e planejamento. Em Londres, é só estacionar na mesa do café!



* Leonardo Garzaro é jornalista, escritor e editor da Rua do Sabão. À parte isso, tem em si todos os sonhos do mundo.

[06/04/2022 09:30:00]