Quando reencontrar os livros é um grande prazer
PublishNews, Rogério Robalinho*, 29/10/2021
Brasil precisa retomar eventos literários que valorizam a leitura e fomentam o setor editorial

Após quase dois anos de pandemia, com um largo uso de telas e com os desafios de administrar à distância relações sociais e de trabalho, tudo indica que é chegada a hora de reencontrarmos o prazer de folhear um bom livro e poder virar a página para descobrir o que nos espera no próximo capítulo.

Mesmo com o crescimento das vendas de livros no ambiente on-line, foi de grande importância reabrir as livrarias físicas, após meses de atividades suspensas. É verdade que muitas delas passaram a funcionar com sistemas de entregas para garantir a sobrevivência. Mas, agora, finalmente, à medida que a imunização avança e o contágio da Covid-19 parece controlado, as livrarias voltam a ser o ambiente para reconectar leitores, autores e editores, com a oferta de novas obras ao público, além de promoção de debates e troca de ideias.

Da mesma forma, com os cuidados necessários, ouso dizer que é fundamental retomar os eventos literários no país, de forma organizada e, por enquanto, híbrida. Neste mês de outubro, a Bienal Internacional do Livro de Pernambuco provou que a volta desses eventos tem tudo para ser bem-sucedida. Realizamos uma feira literária de 12 dias ininterruptos, mais de 11 horas de atividades diárias e participação de 350 mil pessoas, que se dividiram entre a visita presencial aos estandes e as salas virtuais. No Centro de Convenções de Olinda, o público foi recebido de braços abertos, mas, de maneira prudente, seguindo os protocolos sanitários.

A Bienal de Pernambuco, que é o maior evento literário do Nordeste e o terceiro do país, movimentou, este ano, cerca de R$ 12 milhões em negócios, número significativo para este momento em que a cultura, em nosso país, encontra-se sob forte ataque. Vale dizer que a utilização da plataforma e-Bienal também serviu para amplificar nosso contato – e nossos negócios – com o Brasil e o mundo, especialmente o povo lusófono. A cultura, portanto, resiste.

Reunimos nomes de expressão nacional e internacional, como Mia Couto, Itamar Vieira Júnior, Cida Pedrosa e Mariana Enríquez e promovemos mais de 60 lançamentos de livros.

Por tudo isso, neste Dia Nacional do Livro, celebrado em dia 29 de outubro (data de criação da Biblioteca Nacional), não posso deixar de expressar meu entusiasmo com o resultado alcançado em Pernambuco e defender o retorno dos eventos literários em nosso país, como forma de atrair o público, incentivar a leitura e fomentar os negócios no mercado editorial.

Nesta data, no entanto, cabe também defender a necessidade de políticas públicas que contemplem a valorização da leitura, num país em que apenas 52% da população têm o hábito da ler, como mostra pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, publicada em 2020, com o apoio do Instituto Pró-Livro.

A pesquisa aponta ainda que 29% dos leitores mais assíduos estudaram até o quarto ano do Ensino Fundamental e que 33% dos que têm o hábito da leitura têm renda de um a cinco salários mínimos, o que desmistifica a tese de que ler é para os integrantes das classes mais abastadas. O livro precisa estar ao alcance de todos, sem discriminação. Com variedade de temas que permita atrair cada vez mais público para dentro das livrarias e para os corredores das bienais.

O reencontro com o prazer da leitura é urgente!


* Rogério Robalinho, produtor da Bienal Internacional do Livro de Pernambuco

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do PublishNews


[29/10/2021 11:00:00]