Um estudo sobre o ressentimento amoroso
PublishNews, Redação, 17/08/2021
Romance de Flavio Cafiero mostra como um amor perdido pode nos tirar do prumo

São Paulo, metrópole quase infinita, é o cenário de Diga que não me conhece (Todavia, 112 pp, R$ 49,90), de Flavio Cafiero. Ferido pelo fim do relacionamento com Fabiano, Tato se muda de bairro e vai viver num prédio na região dos Campos Elíseos, no centro da cidade. Enquanto luta emocionalmente para superar a desilusão com o namorado, ele trava amizade com vizinhos do edifício que formam uma singular comédia humana: um adicto em recuperação, a produtora de moda que conhece desde a infância, um inusitado praticante de nudismo, a esposa de um escritor e também uma moradora de rua que vaga pelas imediações. Habitantes de uma cidade que se transforma a cada fim do dia. Mas as ruas e avenidas parecem confluir para outro lugar: a cabeça e o coração de Tato não vão nada bem. Grande parte de sua energia é direcionada para o rancor. Em seus passeios noturnos, ainda torturado por pensamentos intranquilos, Tato se depara com um mistério tipicamente urbano: o aparecimento de bonecas sem cabeça em praças da região. Essas “bonecas degoladas” (como diz o narrador) parecem comentar, de maneira poética e sórdida, os surtos e rompantes do protagonista, um homem engolfado pela crise do amor. Como que mimetizando o próprio centro da cidade, o Flavio Cafiero traz para essas páginas a delicadeza e a ignomínia, a agitação e a busca por transcendência, o amor e o mais fundo desprezo.

Tags: romance, Todavia
[17/08/2021 07:00:00]