Sem espaço para o contentamento
PublishNews, Redação, 14/06/2021
Publicado pela Oficina Raquel, 'Há uma lápide com o seu nome' questiona o papel da mulher ao mesmo tempo que narra a rotina de uma família marcada pela incomunicabilidade

Uma série de eventos interconectados que acontecem sem nem sempre nos darmos conta ou os termos escolhido inteiramente. Assim pode ser definido o contínuo da vida, especialmente àqueles impedidos de viver em sua máxima potência, livremente. Assim é, ao menos, para Adelaide, uma mulher cotidianamente cerceada pelo marido e incompreendida pela filha, e uma das personagens centrais de Há uma lápide com o seu nome (Oficina Raquel, 108 pp, R$ 49), livro de estreia da sergipana Camilla Canuto. Neste romance, o leitor acompanha o desenrolar do dia a dia de uma família – notando os excessos e faltas do pai, a amargura da mãe, o ressentimento da filha –, em um ambiente de constrição constante, que resulta em vidas sem espaço para o contentamento. E, já no início da obra, é possível compreender o acontecimento que junta o destino desses três personagens: uma gravidez indesejada. João não deseja que a criança venha ao mundo, mas Alice nasce em meio a uma configuração familiar em que impera não o amor, mas sim a negação das singularidades da mãe, as ausências e exigências do pai, um sujeito violento, e as mágoas próprias de Alice, causadas pela sensação de não ser apreciada pela mãe. É neste farfalhar das cortinas da intimidade que Camilla Canuto costura uma história delicada, comovente e repleta de episódios que povoam as realidades familiares, sem retratá-las como lugares-comuns.

[14/06/2021 07:00:00]