A culpa que persegue
PublishNews, Redação, 30/11/2020
Livro acompanha a vida de um homem que se deixa amargurar pela culpa de deixar sua família no gueto, por ser judeu e por estar vivo enquanto massacram milhões dos seus

Buenos Aires, início da década de 1940. Vicente Rosenberg, que emigrou sozinho da Polônia, é dono de uma loja de móveis, casado e tem filhos. Desfruta da cidade: frequenta os cafés, trocou a comida judaica pelas empanadas, lê os jornais locais, sente-se perfeitamente em casa na língua castelhana. Sua mãe, porém, permaneceu em Varsóvia. E em cartas esporádicas que consegue escrever ao filho vai relatando sua situação, que piora progressivamente quando os nazistas erguem o infame gueto para isolar a população judaica. À medida que o tempo passa, as cartas descortinam uma situação dramática. Pessoas abatidas à luz do dia. O sarcasmo assassino da soldadesca alemã. A fome, a doença e a animalização a céu aberto. É nesse ponto que Vicente começa a ficar afetado. Ele, que até então pouco se lembrava de sua condição judaica, percebe que, no tempo em que vive, tudo o que uma pessoa pode ser desaparece quando se é apontado como judeu. Vicente passa a falar menos, a preferir o silêncio, a dizer apenas o essencial. A culpa — por deixar a mãe no gueto, por ser judeu, por estar vivo enquanto massacram milhões dos seus — o rói por dentro, reduzindo o homem jovem a uma espécie de carcaça ambulante. Com O gueto interior (Todavia, 128 pp, R$ 48 – Trad.: Rosa Freire D’Aguiar), Santiago H. Amigorena foi finalista dos principais prêmios literários da França.

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[30/11/2020 07:00:00]