A arqueologia da pobreza
PublishNews, Redação, 16/11/2020
‘Os supridores’, de José Falero, apresenta um retrato de personagens da periferia de Porto Alegre sobre os quais prestamos pouca atenção

Em Os supridores (Todavia, 304 pp, R$ 59,90), o autor José Falero cria um narrador culto e perspicaz — que contrasta com o dialeto a um só tempo urbano e filosófico da periferia —, e faz uma verdadeira arqueologia da pobreza. Falero leva o leitor direto ao supermercado Fênix, na região central de Porto Alegre. É ali que trabalham Pedro e Marques, dupla que aos poucos veste a carapuça de um Dom Quixote e de um Sancho Pança amotinados. Moradores de "vila" (a favela no Sul), eles invertem o jogo mesmo que as consequências sejam graves. Os dois conhecem pessoas que traficam na periferia onde moram, por isso insistem em se manter na legalidade. Mas, diante de uma "seca" de maconha devido ao desinteresse dos traficantes em comercializá-la, e já cansados da exploração do trabalho, os dois amigos decidem entrar para o tráfico. É a única opção para melhorar de vida. E também uma recusa à desumanização do trabalho assalariado.

[16/11/2020 07:00:00]