Quatro coisas que aprendi usando meu tempo livre para ler
PublishNews, Maju Alves*, 1º/10/2019
Em seu primeiro artigo, Maju Alves, responsável pelos projetos especiais do PN, conta o que aprendeu com o seu desafio de usar o seu tempo livre para se dedicar à leitura

Diversas vezes ouvi em eventos do PublishNews que atualmente o livro compete pelo tempo das pessoas. Compete com o celular, com a Netflix, com o Spotify e diversas outras plataformas de streaming, além das redes sociais, que atualmente tomam 2 horas e 20 minutos por dia do brasileiro, de acordo com uma pesquisa realizada pela GlobalWebIndex.

Sou uma leitora ávida. Apesar disso, vi meu tempo sendo tomado por séries e filmes (assino cinco plataformas de streaming voltadas para isso). Depois de ouvir um episódios do podcast As Desqualificadas, no qual a Taty Leite falou do seu desafio de ler um livro por dia, me fiz a pergunta: Se eu deixasse de gastar esse tempo livre pra me atualizar em séries, assistir vídeos no YouTube, e checar o feed interminável do Instagram, quantos livros eu conseguiria ler?

Para base de comparação, minha média de leitura era terminar um livro de 300 e poucas páginas em uma semana. Em compensação, termino entre três a quatro temporadas de Grey’s Anatomy no mesmo período.

Por um mês, resolvi deixar de lado esse tempo que gasto em outras coisas e realmente ler no tempo livre. Na primeira semana, terminei cinco livros. Depois desse desafio, consegui chegar a algumas conclusões:

1 – Temos dificuldade de focar nossa atenção em uma coisa por vez. Por sempre termos o celular conosco, e com ele, um mundo de possibilidade de coisas para ver e acessar, muitas vezes não ficamos 100% focados no que estamos fazendo: estamos sempre com parte da atenção voltada para as notificações que estão sempre subindo, isso quando não estamos assistindo uma coisa na TV e outra no celular ao mesmo tempo. Notei que era algo que eu fazia muito e depois comecei a prestar atenção nos outros. E esse não é só um problema das gerações mais novas, tá?

2 – Precisamos educar as pessoas em acessarem o livro por outros meios. Não era uma ouvinte de audiolivros, mas, pelo bem do desafio, resolvi dar uma chance. Já havia tentado ouvir antes, mas sempre acabava deixando de lado pois não conseguia prestar atenção. Durante o desafio, comecei a me educar a ouvir. Comecei com um audiolivro que me manteria mais focada (Year of Yes, narrado pela própria Shonda Rhimes, para suprir minha necessidade de algo relacionado a Shondaland). Comecei a me acostumar cada vez mais a ouvir e prestar atenção no que estava sendo dito, foi realmente uma questão de educação. A mesma coisa funciona para o livro digital, em que leituras mais curtas e fragmentadas podem levar a um livro mais longo.

3 – O livro não é visto como forma de entretenimento. Enquanto eu lia todo dia de manhã, quando eu chegava em casa ou até mesmo no meu almoço, preferia gastar meu tempo com uma série. Meu pensamento era: preciso relaxar, vou assistir Netflix. Por que não ler um livro? Mesmo com uma estante cheia de títulos que ainda não li, e vários outros comprados no Kindle, não via o livro como algo que iria me entreter quando estou cansada. Temos uma visão de que o livro é algo sério e pesado, e de fato, às vezes ele é. Mas às vezes, uma leitura bobinha pode nos entreter e relaxar muito mais do que um episódio de 40 minutos na Netflix.

4 – O que me leva a questão de que muitas vezes, não vemos valor em obras comerciais. Essa já é uma questão mais complexa e anterior ao desafio. Sou apaixonada em ler livros YA, aquela leitura bem fácil, ao mesmo tempo que gosto de ler clássicos. Mas muitas vezes, quando menciono algum desses livros comerciais para jovens, já recebi muitas caretas e suspiros que dizem, “mas isso nem é literatura”. Você pode julgar o quanto quiser, mas a verdade é que são essas obras que formaram diversos millennials em leitores (oi, Harry Potter), e que continuam formando gerações mais novas em apaixonados por livros. Esses livros são a porta de entrada, e a partir deles, podemos trilhar um caminho para outros livros. Por exemplo, você jovem que adora A Seleção, talvez você goste de Jane Austen. E honestamente, se quiser manter sua leitura só nessas obras, está ok também!

Ao final do desafio, terminei 16 livros. Admito que tive a ressaca literária em um ponto, e escolhi reler algumas coisas que sabia que iam me colocar nos trilhos de novo. E notei que em vários momentos do meu dia, meu tempo é bem melhor aproveitado lendo do que fazendo qualquer uma das outras coisas que citei acima. Encontrei novos momentos no meu dia para encaixar um livro e acabei modificando minha rotina e incluindo mais leitura e diminuindo o estresse nas redes sociais.

Desafio outras pessoas a fazerem o mesmo, nem que por uma única semana, ou três dias que sejam. Porquê no final das contas, ele me mostrou muito mais do que esperava.


* Maju Alves é formada em Marketing e é pole dancer nas horas vagas. É também responsável pelos projetos especiais do PublishNews desde 2017.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do PublishNews.

[01/10/2019 06:00:00]