Vikings aportam em Minas Gerais
PublishNews, Carlo Carrenho, 23/07/2017
Editora belo-horizontina Letramento adquire sete obras de autores escandinavos em apenas dois meses

Os vikings se moviam pelas águas, mas nunca se limitaram a conquistar apenas o litoral das terras que atacavam, tendo dominado vastas áreas no interior da Europa Central e Oriental no século X. Talvez isto explique por que a agência literária Vikings of Brazil, capitaneada pelo finlandês Pasi Loman, não se limita aos grandes centros como Rio e São Paulo, mas se aventura interior afora quando é possível. O resultado é que a agência vendeu nada mais que sete livros escandinavos para a editora belo-horizontina Letramento nos últimos dois meses. Como são livros em idiomas menos convencionais, trata-se de uma conquista para viking nenhum botar defeito.

O editor Gustavo Abreu é um estudioso das listas de mais vendidos internacionais | © Divulgação
O editor Gustavo Abreu é um estudioso das listas de mais vendidos internacionais | © Divulgação

A Letramento viu seu faturamento dobrar no ano passado em relação a 2015, e prevê um crescimento de 50% em 2017. “Dou esse crescimento à profissionalização da editora. E dividir nosso catálogo em selos atraiu a atenção de novos autores, livrarias e parceiros. Resolvemos que não seríamos mais uma editora independente, nos organizamos como grupo editorial e vieram novos parceiros, como FGV e Canal Brasil”, explica Gustavo Abreu, diretor editorial da casa. “Hoje nosso carro forte é não ficção, e o selo jurídico é responsável por mais da metade do meu faturamento”, acrescenta o editor mineiro.

A Letramento publicou 47 títulos no ano passado e Abreu acredita que mais de 100 serão publicados este ano. Entre eles, alguns dos sete livros recém-adquiridos, que são: Your Superstar Brain, da norueguesa Kaja Nordengen; The amazing story of the man who cycled from India to Europe for love, do sueco Per J. Anderson; Now! Seize the moment e Hell Week, ambos do norueguês Erik Bertrand Larssen; Surrounded by Idiots e Surrounded by Psychopaths, ambos do sueco Thomas Erikson; e Anorectic, da norueguesa Ingeborg Senneset.

“A primeira obra que vamos lançar, Your Superstar Brain, já está traduzida pelo Leonardo Pinto Silva, o mesmo tradutor da última edição de O mundo de Sofia para a Companhia das Letras”, e apenas um autor será traduzido do inglês, o restante será das línguas originais”, conta Abreu. “Lançaremos três dos sete livros agora no segundo semestre e os outros quatro no ano que vem”, explica.

Questionado sobre o motivo deste interesse na produção nórdica, Gustavo Abreu explica um pouco de seu modus operandis editorial: “Estudo a lista dos mais vendidos sistematicamente desde 2013, e isso me fez curioso pela lista de outros países, principalmente EUA, Noruega e Suécia. Mas, esses dados não são tão fáceis de achar ou mastigados como os do PublishNews, então vou acompanhando alguns sites vez ou outra.” O agente Pasi Loman confirma esta atenção que Abreu dedica às listas. “Já aconteceu de fechar um negócio com a Letramento e uma semana depois uma das maiores editoras do mercado entrar em contato comigo sobre o título ­e já era tarde demais”, conta o finlandês. “A Letramento tem ambição e visão.”

Loman acredita que o interesse pelos livros escandinavos é movido puramente pela busca de obras que vendem. “Ninguém tem interesse na produção nórdica por si só, mas para obras de qualidade que têm potencial comercial, independente da origem”, enfatiza o agente. Mas o editor Gustavo Abreu parece ter um carinho especial pela região. “A produção escandinava é muito interessante e variada, além de ser encantador o incentivo que aqueles países dão às publicações e ao nosso interesse em publicar seus autores. Pretendo trazer todos os cinco autores ao Brasil e os governos locais, através de algumas instituições, nos dão subsídio para isso”, comenta.

A verdade é que acompanhar mercados menos óbvios que o americano, francês ou inglês pode compensar e muito. “Ainda há algumas editoras que acham que só livros escritos em inglês podem ter sucesso no Brasil. Tudo bem, escolha deles. Mas essas editoras nunca vão achar o próximo Stieg Larsson, Jostein Gaarder, Henrik Fexeus ou Astrid Lindgren. Acredito que a Vikings of Brasil ajudou a mudar um pouquinho o pensamento do mercado brasileiro, mas ainda temos muito trabalho. E quem ganha mais com isso é o leitor brasileiro, que passa a ter acesso a uma maior variedade de livros, ideias e culturas”, sacramenta Loman.

Agora é esperar pela publicação das obras para saber se estes autores vikings conquistarão não apenas as montanhas das Gerais, mas também as grandes cidades próximas ao litoral brasileiro.

[23/06/2017 10:14:00]