BNDES já injetou R$ 1,6 bi no setor editorial e livreiro
PublishNews, Leonardo Neto, 16/10/2014
O volume de financiamento supera o empregado no cinema, por exemplo

Quando o BNDES – Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social – foi criado na década 1950, o enfoque principal era no fomento de criação de fábricas, plantas de energia elétrica e obras de infraestrutura. Na década de 1970, passou olhar para a indústria petroquímica e de insumos básicos. Nos últimos 10 ou 20 anos, passou a apostar na indústria de tecnologia e da comunicação. Mais recentemente ainda, percebeu o potencial da indústria criativa, que engloba softwares e de bens intangíveis, incluindo aí nesse grande guarda-chuva a indústria editorial e livreira. O enfoque ganhou força depois da publicação do livro A economia criativa, de John Hopkins, e de um caso da Inglaterra que mapeou o PIB das indústrias criativas de Londres e concluiu que era muito significativo. A primeira investida do BNDES nessa indústria foi no audiovisual, segmento no qual marcou a sua presença e hoje é raro, por exemplo, o lançamento de um filme nacional sem o apoio do Banco. No ano passado, com mudanças na linha de financiamento Procult, o BNDES passou a enfocar mais na indústria editorial e livreira. A aposta do BNDES é tão grande nesse segmento que, pela primeira vez, enviou duas representantes à Feira do Livro de Frankfurt, com o objetivo de conhecerem melhor o segmento e mapearem as oportunidades brasileiras no mercado global. “O setor editorial e livreiro somados é o mais significativo em termos de volume que o BNDES já financiou nos últimos anos. É claro que ainda é muito concentrada em grupos maiores, mas é maior do que o audiovisual, onde já temos uma presença marcante”, comentou Luciane Gorgulho, chefe do Departamento de Cultura, Entretenimento e Turismo do BNDES em sua passagem por Frankfurt. Segundo a economista, o volume total de financiamentos para o setor ultrapassou R$ 1,6 bilhão nos últimos cinco anos. Nesse número estão os R$ 628 milhões tomados pela Saraiva recentemente.

Ainda de acordo com Luciane, as mudanças de paradigma, a ida para o digital, a mudança estrutural que está acontecendo no setor editorial pode ser uma oportunidade ou uma ameaça. “A gente prefere perceber como uma oportunidade, já que o jogo está mudando. A grande questão é como as nossas empresas podem se posicionar melhor e promover o desenvolvimento, o emprego e a geração de exportações nesse novo cenário”, explicou Luciane. “O grande enfoque é no fortalecimento das empresas brasileiras, nesse momento em que o mercado brasileiro é muito pujante e tem atraído empresas globais como a Penguin Random House e a HaperCollins, por exemplo. O nosso papel é fortalecer as empresas brasileiras para que elas possam ter uma boa concorrência com essas empresas”, completou Fernanda Milne Jones Nader Garavini, economista do departamento chefiado por Luciane Gorgulho, também presente em Frankfurt.

O foco principal é nas empresas brasileiras. Pela lei, empresas estrangeiras instaladas no Brasil também são consideradas empresas estrangeiras. E se o bicho-papão Amazon quiser tomar um empréstimo no BNDES? “Em teoria, ela pode sim”, respondeu Luciane. “Mas para eles não valeria a pena”, completa Fernanda. “Pela lei brasileira, não podemos falar que não financiamos empresas estrangeiras instaladas no Brasil, mas para elas o funding do BNDES não é competitivo”, explicou Luciane. O objetivo, segundo a economista, é justamente o contrário. “Queremos que o setor editorial brasileiro se torne relevante no mundo. Que o Brasil passe de apenas comprador de direitos para exportador de conteúdos, de livros e de direitos, mas também que tenha empresas fortes que possam se internacionalizar. Acho que a gente está trilhando esse caminho. Empresas brasileiras estão cada vez mais interessadas no mercado internacional. Temos que aproveitar a oportunidade dessa mudança de paradigma para fazer um caminho inverso, ter empresas brasileiras fortes internacionalmente. Essa é a nossa missão”, explica Luciene.

[16/10/2014 00:00:00]