Dentro e fora: para onde vai e o que oferece o mercado global
PublishNews, João Paulo Putini*, 13/08/2014
Participante do seminário internacional ‘Oportunidades Globais para Editores Brasileiros’ fala as suas impressões

A Nielsen e o PublishNews trouxeram ao Brasil Edward Nawotka, editor-chefe do Publishing Perspectives e com vasta experiência no mercado editorial – tendo morado em dezenas de países – para um seminário internacional intitulado Oportunidades Globais para Editores Brasileiros. No seminário, Nawotka apresentou uma visão prática dos mercados que oferecem maior potencial de crescimento, bem como dicas – com abundância de exemplos – de como buscar oportunidades globais de negócios e se posicionar nos mercados internacionais.

Pensar o digital é inescapável para se entender também esse mercado global. É uma realidade que se impõe, rápida e agressivamente. Não significa que o impresso está com os dias contados, ou que fatalmente morrerá, mas não se pode ignorar o advento do livro digital e as consequências que isso acarreta. Para se formular uma estratégia editorial, é preciso saber como as pessoas consomem informação. Um estudo revelou que em 2013, 98% da informação era obtida por meios digitais, e esse número tende a aumentar.

Outra realidade fundamental para a qual as editoras devem se atentar é a autopublicação, que aparece com muita força na Europa e nos EUA e não deve demorar a se espalhar por aqui também. Ed batiza essa tendência como “levante do resto”, aquele resto que por meios próprios e através de ferramentas colaborativas procuram dar vida a seus escritos, sem o lastro de uma editora. Ainda que seja um mercado fragmentado, não especializado e de pequeno alcance, focado em pequenos nichos, é uma concorrência que merece ser observada. Pode não atingir uma grande massa, mas atinge um de cada vez. E isso conta. Mostra que uma pretensa autoridade do editor está em erosão.

Levando sempre em consideração este contexto mais amplo, Ed passa a delinear algumas oportunidades globais para o Brasil. Primeiramente, coloca que é mais interessante procurar países que estejam num mesmo patamar de desenvolvimento, onde as circunstâncias são parecidas e onde pode haver uma maior identificação. Mais que Europa e EUA, mercados emergentes podem oferecer melhores oportunidades porque “correm juntos”, e eventuais propostas, além do valor propriamente mercadológico, adquirem valor simbólico e afetivo.

Para negociar, é necessário também conhecer com quem estou negociando. Para fazer negócios com a Índia, por exemplo, é preciso, no mínimo, saber quem é o autor mais lido lá. Que tipo de livro vende mais, quais são as tendências, enfim, se informar a respeito do mercado editorial de um país é fundamental para se estabelecer um bom negócio. Cada contexto de cada país é único.

O grande “mercado da diáspora”, como Nawotka o batiza, também é de extrema relevância nos negócios internacionais. Há muitos imigrantes brasileiros espalhados em diversos países do mundo, que muitas vezes mantêm laços e formam comunidades, agremiações. Como posso atingi-los? Eles estariam interessados em ler na sua língua nativa? Será que este não é um mercado atraente e promissor, que merece um olhar mais atento?

Por fim, Edward elenca cinco coisas que devem ser feitas e cinco que não devem. Vale a pena elencá-las brevemente. As primeiras são: 1. Encontrar coisas em comum com outros mercados em desenvolvimento; 2. Procurar nichos não explorados que sejam relevantes; 3. Licenciar, essencial para se expandir mercados e receitas; 4. Transformar o catálogo em dinheiro de formas criativas; 5. Lembrar-se de que bons relacionamentos são importantes. As cinco coisas que não devem ser feitas são: 1. Não exagerar nos direitos autorais; 2. Não acreditar em todos os dados que são oferecidos, mas procurar a fonte; 3. Não fazer grandes estoques; 4. Não abandonar os bons negócios, eles continuam funcionando; 5. Não subestimar a “marca Brasil”, que tem um grande poder lá fora.

Após a apresentação de Edward, Ismael Borges associated manager da Nielsen, uma empresa conceituada de pesquisa de mercado e organizadora do evento, apresentou a ferramenta BookScan, um monitoramento bastante completo e detalhado sobre o perfil do consumidor de livros no Brasil e o respectivo faturamento das editoras. O que se pode reter de mais importante é que se trata de um mercado grande, com espaço para crescer, porém pequeno se comparado a outros (os EUA, por exemplo, têm um mercado 16 vezes maior). Está altamente concentrado nos best-sellers, com predominância para literatura estrangeira. Os livros didáticos também abocanham uma fatia grande dos faturamentos.

Mas toda essa conversa sobre grandes negócios, grandes faturamentos, mercados globais, isso se aplica às pequenas e médias editoras, com recursos muitas vezes limitados para tomar esse tipo de iniciativa? A pergunta foi colocada à baila na rodada que encerrou o seminário. Nawotka colocou, de forma breve, que deve-se procurar parcerias, definir estratégias, fazer sondagens na medida do possível. O importante é ter bem claro quais são as prioridades da editora. Segundo suas próprias palavras, ele quis ser mais “inspirador do que específico” na sua resposta, que se resumia no seguinte: dando o primeiro passo. E um passo de cada vez.

* João Paulo Putini é editor-assistente da Alameda Casa Editorial

[13/08/2014 00:00:00]