Os números de nossos hermanos
PublishNews, Leonardo Neto, 13/05/2014
O governo salva mercado argentino que faturou US$ 736.7 em 2013

Acabou na última segunda-feira (12), a 40ª edição da Feira Internacional do Livro de Buenos Aires, conhecida como a mais longa feira literária da América Latina, com 18 dias abertos ao público em geral e outros três dedicados apenas a profissionais. Estima-se que mais de 1,2 milhões de pessoas passaram pelos 45 mil m² onde se perfilaram 468 expositores, 1.347 editoras e selos e representações de 33 países, entre eles EUA, Israel, Brasil, África do Sul, Coreia, Itália, Ucrânia e Japão.

A economia argentina não está lá muito bem das pernas. A sucessão de atuações erráticas da presidente Cristina Kirchner levou as reservas cambiais do país a níveis alarmantes e os reflexos na economia como um todo são visivelmente danosos. Para a indústria do livro, claro, o cenário de dificuldades não poderia ser diferente. Na abertura do evento, no dia 24 de abril, Gustavo Canevaro, presidente da Fundação El-Libro, organizadora da feira, relatou as dificuldades enfrentadas pelo setor nos últimos anos, sobretudo com o aumento de mais de 50% do valor do papel que, segundo ele, afeta os pequenos distribuidores, a bibliodiversidade e, claro, os leitores.

Fernando Zambra, diretor da Promage, uma espécie de Nielsen local, comentou que as coisas pioraram muito depois que o Governo Federal tomou medidas de restrições às importações. “As medidas impostas, ao invés de fortalecer a indústria nacional, aumentou os custos de produção. A demanda muito maior do que a capacidade de oferta colocou o preço lá em cima”, conta o consultor. Com isso, a oferta de produtos aos consumidores, sobretudo os de CTPs (Científicos, Técnicos e Profissionais), caiu drasticamente. “Cambridge e Oxford, por exemplo, tiveram que passar a imprimir seus livros aqui na Argentina”, conta Zambra. As medidas governamentais citadas por Zambra referem-se às medidas protecionistas tomadas pela equipe econômica de Kirchner. Para cada dólar importado, é necessário que o importador exporte um dólar.

A situação beira ao cômico. Como o PublishNews já contou, livreiros argentinos têm feito uma ginástica extra, tendo que exportar grãos para pode importar livros. Se a medida visava aumentar as exportações, o tiro saiu pela culatra, pelo menos para quem não exporta commodities. A indústria de livros, por exemplo, perdeu muito em exportações nos últimos anos. De acordo com dados da Câmara Argentina do Livro – e confirmados por Fernando Zambra, que tem números bem parecidos -, em 2011, o mercado de livros importou US$ 117 milhões. O volume caiu para US$ 64 mil em 2012 e para U$ 52 mil no ano passado. As exportações, no entanto, não cresceram como era de se esperar. Em 2011, saíram do país US$ 41 milhões em livros; em 2012, US$ 43 milhões e no ano passado, US$ 30 milhõ

Em 2013, o Governo Federal argentino efetuou uma compra recorde de livros para compor acervos de bibliotecas das escolas do País. Ao todo, o Ministério da Educação, por meio do Plano Nacional de Leitura, gastou mais de US$ 119 milhões na compra de 13 milhões de livros. Para se ter um parâmetro de comparação, de acordo com Fernando Zambra, o mercado total de livros infantis vendidos nas livrarias argentinas alcançou 8 milhões de exemplares em 2013. Por outro lado, o mercado privado representou US$ 663,4 milhões em preço ao consumo em 2012 e caiu para US$ 617,2 em 2013, ainda de acordo com Fernando Zambra. Ele observa que o peso argentino se desvalorizou 30% frente ao dólar no fim de 2013 e que isso deve ser levado em consideração. Ao todo, o mercado argentino cresceu 3,6% em 2013, alcançando US$ 736,7 milhões. Fica claro que a compra recorde feita pelo governo salvou o ano. O problema é que não há nada que garanta que isso se repetirá em 2014.

Por isso, é claro que o governo de registro fora do lado um pouco da perda cambial e salvou o ano de EUA $. O problema é que não há nada para garantir que a compra recorde de 2013, voltará a acontecer em 2014.

Apesar da forte presença de Planeta e Penguin Random House, que dominam boa parte do mercado argentino, as independentes ainda têm poderio de fogo. A Promage de Zambra, além de verificar as vendas nas livrarias, recebem relatórios das editoras. Com isso, ele consegue identificar quais são as editoras argentinas e conta que existem hoje mais de 250 editoras em atividade no País. “Há quem diga que Planeta e PRH ocupam mais de 40% do nosso mercado. Não acredito. Fosse assim, não existiriam 250 editoras e selos lançando livros no último ano”, observa Zambra.

[13/05/2014 00:00:00]