A Penguin Random House cem dias depois
PublishNews, Roberta Campassi, de Frankfurt, 09/10/2013
Em evento em Frankfurt, o CEO da nova gigante fala sobre os desafios da fusão e conta por que a Companhia das Letras é um bom negócio

Markus Dohle, o CEO da Peguin Random House, resultado da fusão que há cerca de 100 dias criou a maior editora de livros comerciais do mundo, esteve no Brasil há duas semanas e de lá tirou um exemplo de como a união entre duas editoras pode funcionar.

“No Brasil, encontramos na Companhia das Letras um encaixe perfeito”, disse o executivo na tarde de hoje ao ser sabatinado no evento CEO Panel, da Feira de Frankfurt, por jornalistas de veículos especializados do mundo todo, entre eles Iona Teixeira Stevens, editora do PublishNews. Participaram também profissionais do Livres Hebdo, Buchreport, The Bookseller e Publishers Weekly.

Segundo Dohle, a sociedade entre a Penguin e a editora paulista, firmada no fim de 2011, uniu elementos caros à gestão da nova gigante do mundo editorial: forte presença local aliada a uma estrutura global, capacidade de alcançar novos autores e consumidores e disposição para inovar.

Para ele, enquanto a Companhia das Letras permanece descobrindo talentos literários no Brasil, a Penguin Random House complementa a editora brasileira o oferecer marcas globais (como Penguin Classics e Portfolio) e a ajuda a alcançar a nova classe média brasileira, por meio da criação de selos como o Paralela, de abordagem bem comercial.

“Hoje trabalhamos também para que a Companhia seja líder em inovação no Brasil”, disse Dohle, que aproveitou para brincar sobre a empresa brasileira. “Quando eu era CEO da Random House e soube da sociedade entre a Penguin e a Companhia, fiquei com tanto ciúmes que quis virar sócio também.”

Mercados emergentes

Segundo Dohle, a América Latina é um dos focos de crescimento da nova gigante do mercado editorial. Além do Brasil, os leitores de língua espanhola são fundamentais, inclusive dentro dos Estados Unidos, onde são mais de 30 milhões.

Os mercados asiáticos, com destaque para Índia e China, também são apostas da Penguin Random House. “Enquanto na Índia a Penguin já tem uma longa história de publicações, na China o mercado de distribuição física avança rapidamente e o conteúdo em língua inglesa ganha cada vez mais importância.”

Mas isso não quer dizer que Dohle esteja pessimista sobre os mercados já maduros como os EUA e a Europa Central. “São mercados estáveis, e estabilidade é a nova onda”, provocou o executivo, em referência às turbulências econômicas dos últimos anos.

Digital e físico

Dohle tampouco se diz pessimista com o mercado de livros impressos. Pelo contrário. “Sempre acreditamos no impresso e agora mais do que nunca”, disse. “O crescimento do mercado de livros digitais nos Estados Unidos e no Reino Unido já está se estabilizando. Quem imaginaria que isso aconteceria quando ele representa apenas 25% do mercado?”

O executivo diz não saber se em cem anos o mercado de livros físicos será 40% ou 70% do negócio da Penguin Random House. “O que eu sei é que ele sempre será muito importante.”

Segundo Dohle explicou, o desafio da megacorporação é alcançar sempre mais leitores, seja pelo livro físico, seja pelo digital. A Penguin Random House controla hoje 25% do negócio de livros de varejo do mundo e tem presença em 100 países, por meio de 250 selos editoriais.

Novos modelos e inovação

Diante de uma pergunta sobre o surgimento de novos modelos de negócios que ameaçariam a importância das editoras, como a autopublicação, Dohle respondeu que a Penguin Random House vem analisando e testando diferentes estratégias com cuidado.

“A autopublicação é uma enorme tendência e estamos investindo nesse negócio”, disse – a companhia é, por exemplo, dona da Authors Solutions. “Por outro lado, esse fenômeno torna o conteúdo que tem curadoria muito mais importante: num mundo complexo como o nosso, as pessoas querem orientação e as editoras oferecem essa orientação.”

Em plena era do conteúdo e da compra digital, o principal desafio tecnológico que Markus Dohle tem à frente é, segundo ele mesmo repetiu algumas vezes, desvendar uma fórmula para que leitores possam descobrir novos títulos.

Ironicamente, os últimos dois livros não publicados pela Penguin Random House que o executivo leu foram descobertos por ele sem qualquer ajuda de algoritmos ou bytes. “Eu os descobri em cima da mesa de um amigo”, concluiu Dohle, mas não sem alguma hesitação diante de uma solução tão simples e antiga.

[09/10/2013 00:00:00]