A nova velha novidade
PublishNews, Iona Teixeira Stevens, 08/10/2013
Conferência de abertura aconteceu nesta terça-feira

Apenas alguns pavilhões separaram as conferências de abertura da Feira de Frankfurt e a Publishers Launch, mas as visões do mercado dos participantes de cada uma pareciam estar a anos-luz uma da outra.

“Esta é a 40ª feira que eu participo, não perdi nenhuma”, abriu o sisudo Gottfried Honnefelder, presidente da Börsenverein, a Associação das Livrarias da Alemanha. “Posso dizer que não vi muitas mudanças, os assuntos sempre voltam, não nos resta muitas novidades”, complementou o presidente para uma plateia que não se impressionou muito com a frase de efeito.

Enquanto o “Big Data” é o assunto do momento no mercado internacional, Honnefelder se prende ‘à titia da esquina’. “Essa titia organizava os dados, era a administradora do Big Data no passado. Hoje tudo é captado na internet. Me pergunto se esse Big Data tem consistência, se sabe organizar os dados. O cara a cara deve ser levado a sério”, explica Honnefelder.

Se, minutos antes, o VP de conteúdo do Kindle, Russ Grandinetti, mostrou a predominância das vendas online, aqui o presidente da associação comemorou o crescimento nos 10 primeiros meses do ano de 0,9% das vendas em livrarias de tijolo na Alemanha, 0,1% a mais que a média das vendas nos três meios de distribuição contabilizados (livrarias, lojas de departamento e online). “0,1% é uma pequena vitória. Por mais irrisório que seja, é um sinal que precisa ser interpretado”. Mas a tranquilidade dos livreiros alemães ainda está distante. “Não sabemos se no futuro haverá venda em loja física. Frente a essa insegurança, o mundo livreiro mudou a sua percepção,” disse Honnefelder.

A terceira colocação de Honnefelder conseguiu ser ainda mais conservadora. Em relação às negociações para se estabelecer o livre comércio na União Europeia, o presidente quer “tirar os livros dessa negociação, não expor a Cultura ao comércio desenfreado, para que o livro não seja vendido como se fosse um parafuso”. Por último, o presidente da Börsenverein cutucou o governo: “O governo na Alemanha não faz nada para defender o livro e a Cultura. Nos preocupa que a Amazon, Google, Apple etc. possam acabar com o preço fixo, o que seria o fim do comércio em livrarias, o dinheiro dominaria tudo.”

Mais em sintonia com as novidades da Feira, o presidente da Feira de Frankfurt Juergen Boos, mostrando seu iphone, começou dizendo que muita coisa mudou sim. “O comportamento com a leitura mudou e vai mudar ainda mais. A comunicação flui de forma diferente. Talvez os textos serão mais curtos, a informação virá em vias múltiplas e audiovisuais. Crianças não vão ter que sentar horas a fio para fazer uma tarefa, elas terão uma vida interativa”, prevê Boos.

Boos avalia que estamos no limiar de uma nova forma de leitura literária, com novas estruturas de poder. “Há os grandes e pequenos, não é mais uma separação por área”.

Boos e Honnefelder ambos admitem o incômodo que são os chamados ‘Gigantes digitais’. Para Honnefelder, é necessário um “governo que vista a camisa e assine embaixo” para proteger os editores dos ‘Gigantes’. Já Boos não é tão fatídico, ele vê no próprio gigantismo dessas empresas um risco de implosão, com as mudanças sociais e na forma de transferir conhecimento. Ambos, porém, reforçam o apoio mútuo entre a França e a Alemanha na questão da lei do preço fixo.

[08/10/2013 00:00:00]