Apesar do céu nublado, os debates do primeiro dia da 23ª Convenção Nacional de Livrarias, que está sendo realizada pela ANL (Associação Nacional de Livrarias) no Rio de Janeiro ontem e hoje, foram acalorados. Uma das apresentações mais aguardadas do dia foi “A livraria no mercado de entretenimento no Brasil”, em que Claudia Bindo, gerente de negócios da GfK, apresentou os números de um ano e meio de pesquisa sobre o mercado editorial brasileiro. Os dados da pesquisa foram obtidos junto ao varejo, incluindo livrarias, algumas redes de supermercado e livrarias online.
O número de livrarias cujos faturamentos dependem majoritariamente de livros caiu de 81% em 2009 para 48% em 2012. Há uma diversificação do portfólio de produtos oferecidos, possivelmente devido ao aumento do consumo de eletroeletrônicos, que foi de 3,8% no primeiro semestre de 2013 em relação ao mesmo período do ano anterior.
Porém, no mercado de produtos de entretenimento, os livros ainda correspondem à maior parte do faturamento das empresas, respondendo por até 75% desse mercado se comparado a DVDs, Blue-Ray, e games. Mais do que isso, o crescimento do mercado de entretenimento, que foi de 12,3% no primeiro semestre deste ano, é resultado direto do crescimento do faturamento do mercado de livros e de games (12,3 e 34% respectivamente).
A pesquisa também revelou um padrão de comportamento do mercado editorial. Nos primeiros meses do ano, a venda de livros foi impulsionada pelos didáticos e CTP (científicos, técnicos e profissionais). Outro pico foi em maio, quando há um boom no mercado de livros religiosos. As vendas de obras gerais crescem gradativamente ao longo do ano, atingindo seu máximo em dezembro, devido ao Natal.
As vendas do varejo cresceram 11,7% em volume no primeiro semestre de 2013, em relação ao mesmo período do ano passado, enquanto o faturamento cresceu 12,3% no mesmo período.
Nos meses de janeiro e fevereiro de 2013, os segmentos de didáticos e CTP representaram 39 e 41% de todos exemplares vendidos no varejo, respectivamente, e seu peso no faturamento das empresas foi ainda maior – 60 e 64%. Esse valor, na verdade, é menor que o de 2012, o que indica que as obras gerais estão ganhando cada vez mais importância tanto no volume de vendas quanto no faturamento do varejo.
Ainda nos didáticos e CTP, tanto as vendas quanto o faturamento estão bem distribuídos entre as diversas áreas de conhecimento. Os didáticos representaram a maior parte das vendas em volume (18%) no primeiro semestre, seguidos dos livros de ciências sociais (16%) e de administração e economia (13%). As áreas que mais geraram faturamento no período foram as de didáticos (24%) e direito (26%). Ciências humanas e livros de idiomas e dicionários respondem ambos por 11% do faturamento.
No segmento de obras gerais, os livros de literatura estrangeira e de ficção infantojuvenil representaram 33 e 28% das vendas e 35 e 26% do faturamento durante o primeiro semestre deste ano, respectivamente.
A categoria infantojuvenil é bem pulverizada – os dez livros mais vendidos correspondem apenas a 7% das vendas – e o número de lançamentos cresceu no período da pesquisa: o número de títulos aumentou 19% no primeiro semestre de 2013, em relação a 2012. Indagada por livreiros independentes que não veem o mesmo cenário de crescimento no seu dia a dia, Bindo respondeu que os dados da GfK correspondem à média encontrada no varejo, e pode variar muito de negócio para negócio. Além disso, tanto no período das pesquisas, quanto o universo pesquisado e o método utilizado são muito diferentes do da pesquisa da Fipe, divulgada pela Câmara Brasileira do Livro, que usam dados das editoras e não do varejo.
Tendências
A pesquisa apontou também algumas tendências de mercado. A primeira foi o crescimento de 41% nas vendas de literatura estrangeira entre janeiro e junho de 2013, em relação ao mesmo período em 2012. Esse aumento das vendas foi claramente impulsionado pelo fenômeno editorial Cinquenta tons de cinza. Segundo Bindo: “O ‘Cinquenta tons’ foi o responsável pelo crescimento de 41%. Se não fosse por ele o crescimento teria sido de 23%”. Isso mostra que “alguns títulos podem mudar o desempenho de toda uma categoria. O gênero de literatura estrangeira é altamente impulsionado por best-sellers”, afirmou a gerente de negócios. De fato, segundo a pesquisa da GfK os dez livros mais vendidos de literatura estrangeira correspondem a 25% de todas as vendas da categoria, o que indica a concentração do mercado.
Outro fator pontual que afetou o mercado editorial esse ano, como era de esperar, foi a visita do Papa. Livros com o tema “Papa Francisco” tiveram um aumento de 87% nas vendas durante a semana da Jornada Mundial da Juventude e um crescimento de 20% na semana seguinte ao evento.
Por último, as franquias, que já foram destacadas como tendência no último levantamento do Painel do Livro, continuam tendo forte influência, sobretudo no segmento de infanto-juvenis. E talvez o maior exemplo seja a série Diário de um Banana, que alavanca as vendas de toda a série a cada lançamento.