O brasileiro da Taschen
PublishNews, Iona Teixeira Stevens, 16/08/2013
PublishNews entrevistou Julius Wiedemann, editor da icônica Taschen, da Alemanha

Apesar de muito talentosos, são raros os profissionais brasileiros que se destacam no mercado editorial internacional. Um deles é Julius Wiedemann, Diretor de Publicações Digitais e Editor para as áreas de Design e Cultura Pop da icônica editora alemã Taschen Books. Wiedemann, brasileiro que morou no Japão, tem cidadania alemã e já colaborou com pessoas de mais de cinquenta países em seus trabalhos, voltou à terra natal para participar do I Design do Livro e Livro de Design. Ele é o homenageado da primeira edição do festival organizado pelo Istituto Europeo di Design, e recebe amanhã, sábado (17/08)Prêmio Design em Livros 2013. Em entrevista por email ao PublishNews, Wiedemann fala sobre a influência da experiência internacional na carreira, o design no Brasil, mercado digital, entre outros.

PublishNews: Você está sendo homenageado pelo festival do IED, como se sente?

Julius Wiedemann: É, de verdade, uma grande honra. A gente vai fazendo o nosso trabalho e muitas vezes não percebe que as pessoas estão observando. Então é muito bom ver que o resultado é maior do que a gente planejou. O prêmio também não é só meu. Tem a Taschen, tem o meu braço direito Daniel Siciliano Bretas, que está comigo há oito anos, e muitas outras pessoas que me ajudaram. Eu estou absolutamente lisonjeado.

PN: Como é ser um editor “com um pé” em países tão distintos, como Brasil, Japão e Alemanha? Como isso afeta seu trabalho?

JW: Isso realmente me ajuda a pensar lateralmente, procurar outras fontes, me questionar mais sobre minhas próprias ideias e, principalmente, colaborar mais com profissionais mais diversos. Eu falo que a maior riqueza para o designer é a diversidade. Além de ter morado em vários lugares eu adoro viajar e ler coisas muito diferentes. Tudo isso contribuiu muito para o meu trabalho.

PN: Como você vê o design do livro (e o livro de design) no Brasil hoje? Algum nome que desponta no ramo?

JW: O grande nome pra mim no Brasil é a Elaine Ramos. Ela é uma designer de ponta, cujo nível é igual ao dos melhores designers do mundo.

O livro ilustrado no Brasil de arte, design, etc. ainda vive muito de subsídio, o que tem um efeito colateral enorme, que é a tendência a uma baixa qualidade e quantidade. É uma pena. Quando se trabalha nas leis de mercado, como nós da Taschen, você é obrigado a fazer livros que sejam desejados. O fim da produção do livro é apenas o começo, o resultado depende das vendas e das resenhas. O Brasil tem que passar pra próxima etapa, ou seja, não apenas fazer o livro, mas produzir um livro que seja desejado e comprado. A Cosac Naify é um exemplo disso no Brasil.

PN: Muitas editoras hoje mandam produzir os livros na China, você acha que a qualidade gráfica é prejudicada?

JW: Nem sempre a qualidade é comprometida. Isso é um mito. A China tem um dos parques gráficos mais novos do mundo. Eles também são competitivos em preço, mas têm uma sensibilidade para cor enorme. Não estão no nível dos italianos, mas não estão longe.

PN: Um dos grandes desafios hoje do livro digital é conseguir incorporar livros que não são apenas texto, como livros de arte, fotografia, design etc. Como você vê essa transição e quais são as possíveis soluções?

JW: Eu acho que livros de todos os gêneros podem virar produtos digitais. Como esse produto vai ser no final, se vai ser um aplicativo, em formato Epub, pelo iBooksAuthor ou um website depende de muitos fatores, que, claro, incluem os textos. Cada vez mais teremos versões digitais de edições impressas. Mas que serão cada vez mais produtos complementares, e não concorrentes, onde cada formato tem as suas vantagens e desvantagens e utiliza o que o meio pode oferecer de melhor.

Ainda temos uns 5 anos de transição pela frente, pra que possamos dar a volta. A Apple criou o iBooksAuthor que, apesar de ter limitações, é excepcional. O Android ainda não tem nada. Ou é aplicativo ou esquece – pelo menos por enquanto. A Adobe está tentando tapar os buracos. Mas ainda temos um longo caminho a percorrer em termos de ferramentas.

PN: Muitas editoras alemãs estão publicando títulos brasileiros este ano, por causa da homenagem ao país na Feira de Frankfurt em outubro. As editoras alemãs de arte ou design também estão interessadas no Brasil?

JW: Sim, nós estamos! Esse ano para nós é o ano do Sebastião Salgado. O livro dele, Gênesis, é um sucesso e nossa parceria está sendo sensacional. O Gênesis está sendo considerado um marco na história das publicações de fotografia. E o livro é um sucesso no mundo inteiro, até mesmo em países onde a exposição Gênesis ainda não foi realizada. Fora isso, estamos sempre publicando trabalhos de brasileiros, de arquitetos como Thiago Bernardes a artistas como Beatriz Milhazes.

PN: A Taschen tem planos de publicar algum livro brasileiro ou sobre o Brasil?

JW: Estamos trabalhando com várias ideias, incluindo um livro sobre o Rio de Janeiro, entre outras coisas. O Brasil tem uma enorme riqueza criativa.

[16/08/2013 00:00:00]