O jornal alemão Die Zeit resiste à fórmula dos textos curtos e rasos, tão frequentemente adotada pelos jornais que veem sua sobrevivência ameaçada na era digital. O semanário, tido como o melhor da Europa, continua publicando textos longos e analíticos que continuam lhe garantindo ótima reputação e também crescimento – sua receita cresceu 2% em 2012 e alcançou € 154 milhões, a maior desde a criação do jornal em 1946. Foi com certa naturalidade então que o Zeit aderiu à onda de outros veículos da imprensa internacional (no Brasil temos o caso do jornal O Globo) e lançou no mês passado uma linha fixa de livros digitais, que têm entre 50 e 150 páginas e reúnem textos já produzidos pelo Zeit. Segundo Sandra Kreft, responsável pelas revistas e novos negócios do grupo, os e-books foram pensados para atender os leitores que desejam formatos mais concisos sobre temas específicos.
PublishNews: Por que o Die Zeit lançou e-books?
Sandra Kreft: O Zeit é uma empresa de mídia atenta aos novos desenvolvimentos dos meios de comunicação e do comportamento do leitor. Quando os e-books começaram a crescer na Alemanha, em 2011, começamos a olhar para essa área de negócio. Há leitores que desejam formatos mais concisos sobre temas específicos e essa lacuna nós preenchemos com nossos e-books, que abordam temas atuais que mexem com a sociedade. Quando um tema novo se torna relevante, podemos reagir rapidamente e produzir um e-book que apresenta o que há de mais importante sobre o tema. Queremos levar as competências do Zeit – jornalismo de qualidade e diversidade temática –para o digital.
PN: Como vocês elegem os temas dos e-books e quais públicos buscam alcançar com eles?
SK: A partir de uma grande base de assinantes e das experiências que havíamos reunido com nossos outros produtos digitais, pudemos de antemão analisar muito bem os grupos que se interessariam pelos e-books. Agora, depois do início da operação e graças à nossa loja digital própria, estamos descobrindo algo mais sobre nossos clientes todos os dias. Os assinantes são um público importante, porque confiam na marca Die Zeit e estão abertos a nossos novos produtos. Mas por meio de outras plataformas de vendas – Amazon, Apple, Google, Weltbild, Hugendubel e Kobo –, alcançamos também outros clientes que não são leitores regulares do Zeit.
PN: Qual o processo de produção dos e-books dentro do jornal?
SK: Em geral os e-books consistem em textos publicados anteriormente no Zeit ou nas revistas do grupo. Com a reunião dos textos, que antes haviam sido publicados separadamente, os leitores têm no e-book uma obra compacta, que lhes dá um panorama com as informações mais importantes sobre o tema escolhido. Para o futuro é possível que textos inéditos sejam escritos para os e-books. Trabalhamos junto com a redação, que nos ajuda na escolha dos textos e na estruturação dos livros. Então todo o material é revisado e, quando necessário, atualizado.
PN: Se os e-books são a reunião de textos já publicados, o leitor se dispõe a pagar? Por que ele simplesmente não buscaria os textos gratuitamente no site do jornal?
SK: O valor para o leitor está justamente na seleção e reunião dos textos relevantes sobre um tema especifico. Assim ele economiza o tempo e o esforço de procurar os artigos no site. Ele também pode ler o e-book em qualquer momento e em qualquer lugar, mesmo sem conexão à internet. Além disso, nem todos os textos que saem no Zeit estão disponíveis no zeit.de. Alguns e-books foram feitos com conteúdo exclusivo, um deles é o Vorsicht, gute Nachrichten! (“Cuidado, boas notícias!”), que contém o resultado de uma pesquisa conduzida pelo Zeit que ainda não havia sido publicada.
PN: Quais critérios vocês usam para estabelecer os preços? (Eles variam entre € 1,99 e 4,99)
SK: Nossos e-books mais curtos, cada um com três reportagens sobre um assunto, têm cerca de 50 páginas cada. Já os mais extensos têm cerca de 150 páginas, três vezes mais. O tamanho é um critério importante para compor o preço, mas também contam a exclusividade da informação e o valor percebido pelo leitor.
PN: Quais os resultados das vendas até agora e quais são as metas para a coleção?
SK: A nova coleção de e-books foi lançada há um mês e foi muito bem recebida. As vendas na nossa loja própria, as quais podemos analisar constantemente, evoluem de forma bem positiva. Estamos muito satisfeitos. Para o primeiro ano, não temos uma meta de vendas, já que queremos usar este tempo como fase piloto para experimentar e aprimorar. Nosso objetivo é publicar regularmente, a cada um ou dois meses, novos títulos de temas variados. Até o fim do ano queremos lançar 25 e-books.
Roberta Campassi é jornalista e tem experiência no mercado editorial. Foi editora de aquisições da Ediouro, editora-chefe do PublishNews e gerente de negócios da Hondana. Atualmente mora na Alemanha, acompanha de perto o mercado editorial do país e colabora com editoras e veículos brasileiros. Seu e-mail é rocampassi@gmail.com.