Mesa reuniu o editor italiano Roberto Calasso e a suíça radicada no Brasil Jeanne-Marie Gagnebin
Algumas obras prendem o leitor desde a primeira frase. O puxam para dentro do livro logo no começo. Tocam o íntimo. Obrigam uma reação. Para o editor italiano Roberto Calasso, Franz Kafka e Charles Baudelaire possuem essa rara característica. Na mesa 7 da Flip, que abordou o trabalho dos dois autores europeus, Calasso argumentou que outros autores, como Vitor Hugo, podem até terem sido melhores observadores da vida moderna, mas não possuem a qualidade de prender a atenção leitor tão fortemente. Segundo Calasso, Kafka e Baudelaire foram hábeis em traduzir a vida moderna em seus livros, apesar de serem tão diferentes entre si, e suas obras são tão poderosas que criam uma “realidade pré-histórica”, onde tudo deve ser nomeado novamente, tudo adquire um novo significado e tem um impacto muito grande.
Também participou da mesa a professora Jeanne-Marie Gagnebin. Para a suíça radicada no Brasil o grande diferencial desses autores, ao descrever a modernidade, é que eles focam os desvios, os ruídos. Tradicionalmente considera-se que a modernidade começou com as obras de Descartes, mas Kafka e Baudelaire, afirmou a estudiosa, quebram o cartesianismo iluminista da modernidade ao darem atenção aos desvios, e assim traduzem uma nova era da modernidade, que pode ser a nossa.