Poucos e bons lançamentos guiam a Foz
PublishNews, Roberta Campassi, 27/06/2012
Editora criada por Isa Pessoa perseguirá modelo que une poucos lançamentos de nomes fortes, tiragens acima da média e produtos digitais inovadores

De dez a 20 lançamentos anuais escritos por autores que unem qualidade literária e capacidade midiática. Em ficção e não ficção, livros em versão digital e impressa, neste caso com tiragem média de 10 mil exemplares. Na linha infantil, foco no digital, com aplicativos paradidáticos para tablets. Essas são as coordenadas que Isa Pessoa definiu para zarpar no mercado de livros a bordo da Foz, editora anunciada no início deste mês, cujo primeiro lançamento está agendado para setembro.


A novidade foi divulgada oito meses após Isa ter deixado a diretora editorial da Objetiva, onde trabalhou por 17 anos, e ter passado o período seguinte em viagem no exterior. Ela conta que a decisão de abrir sua própria editora aconteceu logo que retornou ao Brasil, depois do Carnaval. Plano de negócios, linha editorial e os primeiros contratos só foram definidos nesses últimos quatro meses, segundo ela. “Meditei bastante sobre a vontade de criar uma editora com um modelo que eu considero mais eficiente e criativo para ter uma dinâmica de lançamentos estratégicos, sem uma estrutura gigante”, afirma.


Esse modelo passa por lançar poucos títulos por mês, mas títulos de autores fortes – ou, na definição de Isa, “potentes” – o suficiente para sustentar o negócio. “São autores com capacidade de ter um desempenho bem acima da tiragem mínima que se pratica no mercado”, afirma. Se, na média, os títulos no Brasil saem com tiragem em torno de três mil cópias, Isa projeta impressões de 10 mil cópias para seus lançamentos. “Com maior escala, é possível reduzir o preço de cada exemplar e torná-lo mais acessível”, ela completa. A Foz projeta fazer livros impressos que custem entre R$ 30 e R$ 35. Todos os lançamentos também sairão em e-book, mas a política de preços para o formato digital ainda não foi definida.


É a ideia de uma roda virtuosa que terá de provar sua capacidade de girar. Por ora, estão garantidos nomes promissores. A Foz já anunciou contratos com Ruy Castro, Nelson Motta, Chico Buarque, Tatiana Salem Levy, Marcelo Rubem Paiva, João Bosco e Paulo Scott. Segundo Isa, que por enquanto não revela exatamente o que cada um desses autores vai publicar pela Foz, há entre os títulos programados biografias, romances e livros de ensaios. O primeiro lançamento é justamente uma coletânea de ensaios de Francisco Bosco, intitulada Alta ajuda. Segundo ela, nas últimas duas semanas mais quatro obras foram acertadas.

O outro plano da Foz que chama atenção é o investimento em livros digitais no formato de aplicativos, que num primeiro momento vão se concentrar na coleção Mestre-Sala, coordenada pela pesquisadora e crítica literária Marisa Lajolo. Esses produtos vão associar letras de canções clássicas da MPB a textos paradidáticos, mapas, ilustrações e fotos, entre outros materiais, sobre diversos temas. Os primeiros três títulos contratados são O Mestre-Sala dos mares, de João Bosco e Aldir Blanc; Morena de Angola, de Chico Buarque; e João e Maria, de Chico e Sivuca. Outros quatro estão em processo de contratação, segundo Isa.

O público das obras serão os alunos de escolas públicas, e o esforço da editora será vender o material para programas de governo. Não há, contudo, uma sinalização concreta de que o governo comprará conteúdo digital de forma maciça nos próximos anos. Por enquanto, a única iniciativa nesse sentido foi incluir material digital no formato de DVD a partir de 2014, e apenas dentro do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) – no Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE), por exemplo, ainda não há previsão de investimento em digital.

Isa, contudo, avalia que é uma questão de tempo. “Há uma tendência de adoção da leitura digital nas escolas, e é algo que tem tudo para acontecer no curto prazo”, argumenta. Cada aplicativo terá um custo total aproximado de R$ 90 mil e, embora a editora reconheça que é um valor alto, ela acredita que “não é arriscado”. Dependendo do sucesso da empreitada, os produtos poderão ganhar uma versão impressa.

Um dos desafios da editora será conseguir dedicar mais tempo e atenção a cada projeto, cumprindo o plano de lançar menos e melhor. “O trabalho concentrado do editor e o tempo de maturação de cada projeto precisam ser preservados para que o resultado seja bem sucedido”, afirma Isa. “A dificuldade é fazer a seleção de projetos. Tem muita coisa boa, e não é difícil daqui a pouco ter 40, 50, 100 livros contratados – mas aí foge do meu propósito”, diz.

Trabalhar com autores internacionais é algo que também está contemplado nos planos da Foz, mas não há pressa nesse sentido. “O fato de eu ter trilhado 90% do meu trabalho até hoje com autores nacionais faz com que eu tenha relações mais consistentes e próximas nesse segmento, mas também vamos buscar títulos lá fora”, afirma.

Confira o site da nova editora: http://www.fozeditora.com.br/

[27/06/2012 00:00:00]