No sábado, 2 de junho, a jornalista e poeta carioca Maria Cecilia Brandi, 36, lança em Sampa o seu livro de estreia. Atacama (7Letras, 62pp., R$ 33,00) reúne poemas que têm como cenário lugares como Madri, Amsterdã e a América do Sul. A obra de Maria Cecilia funde diferentes gêneros e estruturas, e leva o leitor a viajar por sua poesia, que a escritora define como uma “escrita-viagem”. O lançamento acontece na Livraria da Vila da Lorena (Alameda Lorena, 1731 – São Paulo/SP. Tel: XX11 2062 1063), das 16h às 19h. Leia abaixo três poemas da estreante.
Cartão-Postal
mais do que pelas palavras
do verso ou pelo pinguim
carimbado no canto direito
mais do que por incluir
nessa breve viagem
antigo e lento ritual
mais do que por nostalgia
ou pelo cheiro
fiquei mesmo comovida
por encontrar um castelo
entre a conta de luz
e o extrato bancário
Cité
Geometria secular desatropela hoje
as pessoas as coisas a vida
Retas irradiam de circulares boulevards:
sóis que iluminam na terra
Metrópole cortada por cena do advogado
descalço lendo Huxley à beira do rio
Ritmo lento e duro esconde
velocidade subterrânea
Ruas que não renovam onde
o pêndulo suspenso foi em outra direção
Essência forte ou nada em finos corpos rosados
sobrepõe cheiros de vida acumulada
sapatos
Passar o dia com sapatos apertados, como se os pés fossem
gêmeos no ventre por dez meses. Como se apertassem
nervos, movimentos, e a boca de um mudo gritasse pelos pés
desbocados.
Andar em desequilíbrio quando estão frouxos: poder ficar na
mão, pisar em ovos – talvez contra o risco de cambalear.
Arrancar a sola, não pisar em falso. Da sola sem sola, escavar
com estilete os restos de cola que grudam no chão e tiram o
impulso. Buscar outra base. Cobertura. Fecho.